Reportagens

O que a indústria faz pela floresta e o ambiente

A PEFC Portugal reuniu as maiores empresas florestais nacionais para analisar o papel do setor na mitigação das alterações climáticas.

Encontro PEFC2

A forma errada como a floresta é percecionada pelo público é o desafio que a PEFC Internacional quer ultrapassar, como afirmou Ben Gunneberg, CEO do organismo que gere este sistema de certificação à escala mundial, durante o Encontro PEFC Portugal-Floresta e Sustentabilidade. “Temos de ultrapassar o desafio de existirem demasiadas pessoas que ainda acreditam que a melhor forma de travar as alterações climáticas, e a melhor contribuição que as florestas podem dar, é basicamente não cortar mais árvores. Quando, ao mesmo tempo, essas pessoas dizem apoiar as embalagens e os produtos à base de papel, porque são melhores que quaisquer outros.”

O recente Encontro PEFC Portugal-Floresta e Sustentabilidade foi uma oportunidade para comunicar as contribuições da floresta sustentável e dos benefícios da certificação para a ameaça climática, a partir da questão: “O que tem feito a indústria de base florestal pelos objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas?” Para falar da sua política de sustentabilidade estiveram presentes os CEO de três das principais empresas nacionais de base florestal: António Redondo (The Navigator Company), António Amorim (Corticeira Amorim) e José Pina (Altri).

Sustentabilidade e conservação

“O nosso modelo de negócio baseia-se todo num conceito de sustentabilidade”, disse António Redondo, para sublinhar: “Produzimos um produto reciclável e biodegradável, que se baseia numa matéria-prima renovável (a madeira de eucalipto), que no seu ciclo de crescimento fixa dióxido de carbono e produz oxigénio.” No âmbito da ação climática, o presidente da Comissão Executiva da Navigator destacou o Roteiro para a Neutralidade Carbónica nas unidades industriais da empresa, que antecipa em 15 anos os objetivos europeus. “Até 2035, vamos reduzir as emissões em 86%, sendo que as restantes 14% serão compensadas quer por offsetting da floresta, quer dos nossos próprios produtos, que fazem parte de uma cadeia de reciclagem.”

Por seu lado, José Pina confirmou que a fileira do eucalipto pode fazer parte da solução perante as alterações climáticas, porque, segundo o Roteiro Nacional de Carbono, “a floresta sequestrou 11 milhões de toneladas de carbono e o eucalipto representa um terço deste valor”. O presidente da Comissão Executiva da Altri ressalvou ainda a importância da indústria para a produção de energia verde através de biomassa e, em termos de floresta sustentável, o foco nas áreas de conservação. O Programa Altri Diversity, por exemplo, prevê o aumento dessas zonas e a disponibilidade de plantas autóctones, através dos viveiros, para conservar e restaurar nas atividades silvícolas.

Para António Amorim, a missão da sua empresa é também acrescentar valor à cortiça, em harmonia com a natureza. “Hoje podemos quantificar, com cientistas nacionais, que uma tonelada de cortiça retém 72 toneladas de CO2. Ou seja, que uma rolha de cortiça consegue eliminar as emissões resultantes da produção de uma garrafa de vidro.” Por isso, acredita que ainda há muito que pode ser feito no âmbito do seu programa de reciclagem. Atualmente, são recicladas por ano 168 milhões de rolhas, para uma produção de 26 milhões por dia.

Economia circular e bioeconomia

A floresta está também na base da cadeia de valor para a produção de bioprodutos. José Pina garante que a matéria celulósica, única e sustentável, é das que tem mais versatilidade de aplicações. A Altri produz, por exemplo, pasta solúvel usada para produção de filamento viscose para a área de têxtil e, a nível da economia circular, investe na utilização de alguns dos resíduos como fertilizantes na floresta, e em subprodutos das unidades de fabrico para outras indústrias.

A Navigator, por seu turno, está a desenvolver oportunidades ao nível dos biocompósitos de celulose e plástico, particularmente para a indústria automóvel, de novas utilizações para a lenhina e para o bioetanol a partir de resíduos florestais, bem como da produção de óleos essenciais a partir da casca de eucalipto. E a Corticeira Amorim tem a decorrer um projeto com a Nike que aproveita a reciclagem dos ténis para fazer um subpavimento de cortiça capaz de garantir que a economia circular gera valor.

“Todos estão preocupados com as alterações climáticas, mas poucos aceitam a contribuição que a floresta de produção pode ter na eliminação do plástico e no combate aos combustíveis fósseis. A floresta pode ser a solução, mas só se a indústria fizer crescer árvores, as utilizar na maturidade e as voltar a fazer crescer”, afirmou António Redondo. “Se usássemos apenas 20% do território de matos e incultos em Portugal para plantar metade de floresta de produção e metade de floresta autóctone, a cargo das entidades que fazem produção, isso aumentaria muito mais a área de autóctones do que todos os programas que o Governo já anunciou”, concluiu.

Pode assistir ao encontro neste link.