O ataque ao eucalipto é incompreensível
Em artigo de opinião, Pedro Ferraz da Costa, presidente do Fórum para a Competitividade, aponta a oportunidade perdida na floresta nacional.
Todos os sábados tomo um café a olhar para Espanha. Da porta da minha cozinha vejo, à esquerda, a Serra de Ficalho, e à direita as serras de Espanha. Serras cobertas por manchas contínuas de eucalipto, desde a Herdade da Contenda, perto de Barrancos, do lado português, e de Encinasola, do lado espanhol, até à mancha de Cabezas Rubias, a sul, e para dentro da Andaluzia, até chegar à Serra de Aracena. São os baldios explorados pelos “ayuntamientos” – dezenas de milhares de hectares bem ordenados e onde não há um fogo há 30 anos.
Grande fonte de trabalho em região de terras pobres, iguais às nossas do lado de cá do Guadiana, esta floresta de eucalipto abastece a indústria de celulose portuguesa em Setúbal. O corte e preparação para transporte, desde a retirada da mata até carregar os camiões, é um trabalho defendido pelos autarcas, e o transporte é feito por dezenas de camiões que se encarregam de transportar as 170 000 toneladas/ano que nós poderíamos produzir internamente. São 12.000 viagens (ida e volta) de camião.
Não haver fogos não é difícil – corta-fogos de cinquenta ou sessenta metros de largura, impecavelmente limpos, sem ervas ou matos, proibição de entrada no perímetro florestal depois do pôr-do-sol, equipas de sapadores florestais e vigilância aérea por duas avionetas e dois helicópteros são medidas suficientes.
As zonas florestais espanholas têm como objetivo proporcionar emprego às populações locais, e conseguem fazê-lo, garantindo assim a continuidade da floresta e a sua produção de riqueza.
É para mim incompreensível o ataque ao eucalipto, e ainda menos a pouca ou nenhuma vontade de sucessivos governos defenderem a atividade junto da opinião pública. Haverá alternativa? Prefere-se ter áreas cada vez maiores de matos? Cresceram um milhão de hectares nos últimos anos e são um rastilho de fogo. Quanto às alternativas, uma visita à produção de viveiros florestais é suficiente.
Perante o abandono de centenas de milhares de hectares e a incapacidade política, não podemos augurar nada de bom para a indústria da floresta.
Perante a quantidade irrisória de plantas de espécies autóctones e de crescimento lento, e em resposta à nossa surpresa, explicam-nos muito simplesmente que o eucalipto é a única espécie que se vende, porque, pela sua rentabilidade, permite fazer cálculos de investimento, e as outras não. As outras só se consomem para jardins e plantações, com objetivos decorativos, e em debates de televisão.
Perante o abandono de centenas de milhares de hectares e a incapacidade a que assistimos nos últimos 25 anos de integrar os serviços florestais na política agrícola, não podemos augurar nada de bom para a indústria derivada da floresta. Já há anos que arranjar resíduos para valorização energética significava desfalcar a indústria dos aglomerados da matéria-prima de que necessitava.
Ainda agora, no plano Costa Silva, se volta a falar nisso. É preciso desconhecer completamente o terreno, os declives e os custos de recolha e de transporte para ter uma ideia dessas.
Por: Pedro Ferraz da Costa, presidente do Fórum para a Competitividade