“Trabalhar na Floresta é um prazer”
Paulo Ribeiro desenvolve a atividade de apicultor nas zonas de Montalvão e Pegões. “O mundo das abelhas é muito interessante”, diz.
Paulo Ribeiro é apicultor desde os 25 anos e não tem dúvidas que fez a escolha mais acertada, quando trocou o curso de engenharia mecânica pela lida quase diária nos apiários. “Seria muito complicado para mim trabalhar num escritório”, diz, reconhecendo que a apicultura, mais que um trabalho, é uma satisfação: “Quando saio para o campo não penso que vou trabalhar. É um prazer. E o mundo das abelhas é muito interessante.”
O apicultor, de 37 anos, vive no Barreiro com a família, mas passa muito tempo em Montalvão, onde desenvolve a sua atividade. “Nós, apicultores, tentamos manipular a colmeia para que possamos retirar dali alguma coisa (mel, própolis, pólen…), mas cada colónia é ‘um indivíduo’, tem um comportamento, uma personalidade”, explica. Ou seja, “apesar de terem comportamentos semelhantes, nem todas respondem da mesma maneira”.
“O negócio tem sido rentável porque estou em modo de produção biológico”, refere Paulo Ribeiro, explicando que a procura é maior, pelo menos no mercado estrangeiro, e o seu preço é mais elevado.
Um desafio duplamente difícil, uma vez que as abelhas estão a ser alvo de várias ameaças, que colocam em causa a sua sobrevivência. “As abelhas têm um ciclo, crescem quando há condições favoráveis para tal, e depois diminuem a produção quando não existem essas condições”, diz Paulo Ribeiro. Mas o ciclo está a ser ameaçado pelas alterações climáticas. “Nos últimos anos não tem havido estações de transição, tem existido um pouco de primavera e um verão muito longo, e isto para a colmeia é muito stressante, porque as abelhas não têm nada para coletar do campo”, prossegue o apicultor.
A vespa velutina e um parasita destruidor
Mas há mais ameaças no terreno. A vespa velutina (ou asiática), que ataca as colmeias, entrou no Minho em 2011, e está a expandir-se. “Na minha zona, vimo-las pela primeira vez em 2017, depois desapareceram, mas em 2019 e 2020 já as voltámos a ver”, afirma Paulo Ribeiro, reconhecendo que “apesar de não ser uma zona favorável para elas, têm uma capacidade adaptativa muito grande, o que é preocupante”.
Outra preocupação tem a ver com o verroa destructor, um parasita originário da Ásia que apareceu nos finais dos anos 80, que “não é fulminante, mas pode debilitar a colmeia, chegando mesmo a colapsar quando a infestação é muito grande”. E o problema, sublinha, é que “não tem havido muita evolução nos tratamentos”.
14 toneladas de mel exportadas por ano
Apesar de tudo, o negócio tem corrido bem. Com 300 colmeias, em Montalvão e em Pegões – estas últimas instaladas nas florestas da The Navigator Company –, Paulo Ribeiro, que trabalha em associação com outros dois apicultores, exporta cerca de 14 toneladas de mel por ano para a Europa, sobretudo para a Alemanha.
“O negócio tem sido rentável porque estou em modo de produção biológico”, adianta, explicando que a procura é maior, pelo menos no mercado estrangeiro, e o seu preço é mais elevado. “Há uma diferença muito grande entre o modo de produção biológico – mais trabalhoso e moroso – e o convencional”, sublinha, “mas felizmente os consumidores estão mais educados e já valorizam isso”.
Paulo Ribeiro não se queixa. “Apesar de todos os stresses, e desta produção ser mais trabalhosa, porque são usados menos tratamentos e isso implica dar uma maior atenção às abelhas, quando estou junto às colmeias fico muito calmo. Gosto muito de me envolver com a natureza…”.