“Estado não reconhece o nosso serviço público”
Responsáveis da Associação Florestal do Baixo Vouga queixam-se da falta de atenção do poder central para os problemas dos produtores florestais.
Com ação ativa numa região vocacionada para a floresta de produção, a Associação Florestal do Baixo Vouga (AFBV) percebeu que não bastava prestar apoio técnico aos seus associados ou ajudá-los a prevenir e combater os incêndios para cumprir a sua missão. Em duas décadas de vida, a AFBV procurou as suas próprias soluções para vencer as dificuldades que os produtores florestais enfrentam no dia-a-dia, sobretudo quando são pequenos proprietários, como a maioria dos seus associados.
“Se não fossem as autarquias e as indústrias, que ainda vão olhando para os produtores, estaríamos entregues à nossa sorte”, reconhece o presidente, António Guimarães, queixando-se da falta de atenção do poder central. “Basta olhar para o território para ver que o Estado se demitiu da floresta, esquecendo-nos no planeamento e gestão da paisagem e não reconhecendo o associativismo nem o serviço público que este presta”, lamenta.
António Guimarães entende que “não se tem atendido ao ordenamento e gestão da floresta, bastando comparar o que o país investe anualmente no combate aos incêndios com o que investe em gestão florestal”, quando “é no terreno que os milhões anunciados devem ser aplicados”, incluindo “remunerar as associações florestais pelo serviço público que prestam, através de contratos-programa, por objetivos”, reclama o dirigente.
Economia facilita modelos sustentáveis
“Só com economia é possível implementar modelos sustentáveis e a sociedade tem de reconhecer o esforço dos produtores florestais”, acrescenta Luís Sarabando, coordenador da AFBV. “Após 20 anos de trabalho no terreno, estamos convictos de que só há um caminho para a floresta de minifúndio: unir as pessoas para a gestão conjunta das suas parcelas”, prossegue este responsável, destacando as áreas florestais agrupadas que a associação está a desenvolver. “Com vantagens ao nível da produtividade e eficiência económica na gestão, bem como na redução do risco de incêndio”, sublinha.
A AFBV conta com 1 430 associados, metade deles produtores florestais certificados que já agregam uma área de 7 500 hectares, os quais dispõem dos serviços de três equipas de sapadores e a assessoria de sete engenheiros silvícolas. A área de influência da associação abrange 20 mil hectares de floresta no distrito de Aveiro, incluindo os concelhos de Albergaria-a-Velha, Águeda, Anadia, Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Murtosa, Oliveira do Bairro, Ovar, Sever do Vouga e Vagos.
Numa região onde impera a floresta de produção, sobretudo eucalipto e pinheiro-bravo, “o apoio do centro de investigação e desenvolvimento RAIZ tem sido importantíssimo para melhorar as boas práticas e a produtividade (incrementada em 60% no eucaliptal certificado), seja através de plantas clonais, do acompanhamento de pragas e doenças e da partilha de conhecimento técnico”, refere António Guimarães.
“Se não fossem as autarquias e as indústrias, que ainda vão olhando para os produtores, estaríamos entregues à nossa sorte”, reconhece o presidente António Guimarães.
A AFBV tem conseguido demonstrar que com trabalho em rede, realizado em proximidade e com os proprietários, é possível “criar mais e melhor floresta, salvaguardando os interesses dos seus proprietários em paralelo com os interesses mais ambientalistas da sociedade atual”, conclui Luís Sarabando, apontando o caminho a percorrer: “Estude-se a fundo o que é preciso fazer nas várias regiões do país para melhorar os diferentes tipos de floresta e aproveitemos bem o dinheiro do novo Quadro Comunitário.”