Biomassa: o valor dos sobrantes florestais
O material retirado na gestão de combustíveis nos espaços florestais pode gerar um rendimento, fruto do seu aproveitamento energético.
Todos os anos, até ao início do verão, os proprietários rurais têm de assegurar a limpeza das faixas de gestão de combustíveis nos seus terrenos. O objetivo da legislação é proteger a floresta e as populações dos incêndios, numa obrigação que representa um custo, mas pode originar um rendimento. A diferença está no aproveitamento da biomassa residual da floresta, a carga combustível acumulada na superfície do solo.
Na cadeia de abastecimento desta biomassa constam os resíduos das limpezas de terreno, mas também os sobrantes da exploração florestal, tais como copas de árvores, cascas, material proveniente de desbastes e podas, entre outros. Material que pode ser retirado dos terrenos gratuitamente pelas empresas que fazem essa exploração florestal, ou vendido às empresas que transformam a biomassa.
“É importante que o produtor florestal deixe de considerar a biomassa como um subproduto e passe a considerá-la como mais um produto da sua exploração”, afirma Pedro Ramos, da Forestfin.
Trata-se de uma prática de gestão sustentável da floresta, que adiciona vantagens como o crescimento mais rápido e saudável dos povoamentos limpos de matas, promove modelos de economia circular, induz a criação de postos de trabalho em indústrias que utilizam esta matéria-prima, assim como traduz benefícios ambientais, com a redução das queimadas e o aproveitamento da biomassa para a produção de biocombustíveis e de energia renovável.
O valor dos resíduos da exploração florestal
Pedro Ramos, diretor de Projetos da Forestfin, Florestas e Afins, Lda., explica que o importante é que “o produtor florestal deixe de considerar a biomassa como um subproduto e passe a considerá-la como mais um produto da sua exploração”. Um exemplo claro são os cepos florestais: “Normalmente, o arrancar dos cepos, no fim de uma plantação, é uma operação cara. Contudo, se houver a clara perspetiva de os poder vender a bom preço, mesmo que obrigue à realização de operações de remoção da sujidade, então o produtor poderá pensar de outra forma.”
A aquisição de resíduos da exploração florestal, os chamados sobrantes, depende de quem compra e da localização da exploração – porque o volume da biomassa condiciona o seu transporte –, “mas os valores andarão entre os oito e os 15 euros por tonelada de material já rechegado”, em carregadouro, junto a caminhos, avança Pedro Ramos.
A recolha e tratamento de sobrantes florestais contribui para a redução do risco de incêndios. Enquanto fonte de energia, a biomassa florestal é determinante para a diminuição da dependência dos combustíveis fósseis.
Se não houver compradores por perto, no caso de solos pobres, então, em vez de queimar, “a solução passará por incorporar os sobrantes no solo a partir do seu destroçamento”. O custo, mais uma vez, é compensado pelos benefícios de fertilização das terras, reduzindo a necessidade de investimento em adição artificial de nutrientes e aumentando a produtividade.
7% da eletricidade consumida em Portugal
Um proprietário/produtor que decida retirar os resíduos florestais do seu terreno tem várias alternativas. Pode combinar com os prestadores de serviços da exploração florestal que estes façam a recolha dos materiais, sem custos, porque depois os irão vender a terceiros. Também pode vender esta biomassa a intermediários ou diretamente às indústrias que a reaproveita (consoante a quantidade e distância das centrais de biomassa), o que poderá implicar um investimento para a triturar, mas também um aumento do seu valor, já que o preço da estilha varia entre os 24 e os 35 euros por tonelada (de acordo com o grau de humidade). E ainda pode entregá-la em centros de recolha, públicos ou privados.
Esta biomassa tem como principais clientes os produtores de energia renovável, existindo atualmente em Portugal 30 centros electroprodutores a biomassa florestal (para um total de 709 MW de potência instalada), a maior parte dos quais nos parques industriais do setor papeleiro (Altri, The Navigator Company e DS Smith).
Segundo dados da REN (Redes Energéticas Nacionais), 7% da eletricidade consumida em Portugal teve como origem a biomassa, contribuindo para a produção da energia renovável, que já representa 59% do total nacional.