Reportagens

A ciência está a mudar a gestão floresta

O Instituto RAIZ é um dos promotores da ciência aplicada à floresta, contribuindo para uma silvicultura mais sustentável e eficiente.

deteção remota de incendios

Quanto melhor conhecermos a floresta, melhor a podemos gerir. Esta máxima introduz o código de boas práticas da atividade florestal, no qual a investigação e o desenvolvimento são motores para uma gestão mais sustentável e eficiente. Com 20 anos dedicados ao desenvolvimento de conhecimento dos solos, nutrição de plantas, melhoramento genético do eucalipto, monitorização e controlo de pragas e doenças e, mais recentemente, em tecnologias relacionadas com a deteção remota, o RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel tem sido um dos maiores promotores da ciência aplicada à floresta.

“A partir deste conhecimento, e com a colaboração da Área Florestal da The Navigator Company, são desenvolvidas tecnologias e ferramentas aplicadas à silvicultura do eucalipto nas suas diferentes vertentes e fases do ciclo de crescimento”, explica Sérgio Fabres, coordenador da investigação florestal no RAIZ.

O trabalho sistemático tem objetivos claros: tornar as florestas mais resilientes, produtivas, diversas e menos vulneráveis a agentes bióticos nocivos (sejam pragas, doenças ou plantas invasoras) e mais tolerantes a stresses abióticos (como o défice hídrico, temperaturas elevadas e baixo nível de fertilidade do solo).

Potencialidades da deteção remota

Aspeto importante do conhecimento que qualifica a gestão florestal são as tecnologias de informação, que o RAIZ utiliza desde 2001. Em 2016, teve início a recolha de dados através de sensoriamento remoto, com recurso a drones, satélites, LiDAR (sensor de deteção remoto acoplado em aeronaves bastante preciso na extração de variáveis biométricas, como altura, diâmetro, volume, etc., de objetos distantes).

“A deteção remota oferece um conjunto vasto de aplicações na silvicultura e gestão florestal”, adianta o investigador André Duarte, ao que a colega Margarida Silva acrescenta: “Além do suporte às decisões de gestão ao longo de toda a cadeia de valor florestal, as tecnologias de informação fornecem dados relevantes ao nível do planeamento operacional, tático e estratégico.”

Com a colaboração da Área Florestal da The Navigator Company, o Instituto RAIZ desenvolve tecnologias e ferramentas aplicadas à silvicultura do eucalipto, com o objetivo de tornar as florestas mais resilientes e produtivas.

“As imagens de satélite, de aviões e drones fornecem-nos uma visão completa do meio ambiente, o que nos permite mapear e monitorizar variáveis ecológicas e biométricas, como a alteração do uso e ocupação do solo, estimar altura e volume da vegetação, o stock de carbono, número de árvores, avaliar pragas e doenças, a biodiversidade, as propriedades dos solos, entre outras. Estas variáveis são críticas para compreender a dinâmica dos ecossistemas florestais e determinar os potenciais riscos”, prossegue André Duarte, referindo que “as diferentes plataformas e sensores podem ser combinados para obter dados, com maior ou menor detalhe, sobre um evento ou objeto específico”.

Controlar pragas e doenças

Uma floresta sustentável deve seguir um conjunto de regras de gestão, de forma a acrescentar valor para a sociedade como um todo, harmonizando os pilares ambiental, social e económico. “A manutenção da produtividade florestal e a sua sustentabilidade têm sido um desafio permanente para investigadores, técnicos e gestores florestais, em razão do surgimento de novas pragas e doenças, do agravamento da severidade das que já existem e das assimetrias climáticas, com variações expressivas na pluviosidade anual”, refere Sérgio Fabres.

Um estudo publicado em 2018 concluiu que a praga do gorgulho-do-eucalipto afeta quase metade da floresta desta espécie em Portugal continental, causando, em média, a perda de um milhão de m3 de madeira por ano. “Estas perdas prejudicam, em primeiro lugar, os próprios produtores florestais, e, consequentemente, toda a fileira”, afirma Carlos Valente, especialista do RAIZ.

Além do suporte às decisões de gestão ao longo de toda a cadeia de valor florestal, as tecnologias de informação fornecem dados relevantes para o planeamento operacional, tático e estratégico.

A intervenção do RAIZ na monitorização e controlo de pragas e doenças tem sido bastante efetiva. A equipa de investigação florestal está a rastrear áreas com o recurso a tecnologias de deteção remota que, segundo Carlos Valente, “têm sido particularmente úteis para aquelas que causam mortalidade e debilidade das árvores, como as brocas-do-eucalipto”.

Quanto aos métodos de controlo, a investigação tem privilegiado o controlo biológico e a seleção e plantação de eucaliptos que sejam mais tolerantes ou resistentes às pragas e doenças.

Partilhar o conhecimento

A partilha do conhecimento técnico-científico adquirido é outra das vertentes no RAIZ, que, em agosto de 2019, lançou a plataforma e-globulus, para incentivar a adoção de boas práticas na silvicultura do eucalipto.

“Sabemos que grande parte dos povoamentos de eucalipto em Portugal, cerca de dois terços, carece de gestão florestal. É um problema da nossa realidade florestal e um grande desafio, ao qual tentamos responder com a partilha de conhecimento em gestão florestal”, adianta Ana Quintela, investigadora em Silvicultura e Ambiente do RAIZ.

A plataforma e-globulus quer contribuir para uma melhor floresta em Portugal, indicando boas práticas que dão resposta aos requisitos ecológicos do Eucalyptus globulus. Estes são traduzidos em características de solo e clima adequadas para o crescimento e produção da espécie, necessidades nutricionais, densidade de plantas por hectare, compasso de plantação, competição com a vegetação espontânea, vulnerabilidade a pragas e doenças, e condução dos povoamentos em regime de talhadia.