Exemplo de restauro da vegetação de linhas de água
O Dia Mundial das Zonas Húmidas destaca a necessidade de preservar estes ecossistemas. Damos-lhe o exemplo da The Navigator Company.
Este ano, o Dia Mundial das Zonas Húmidas, a 2 de fevereiro, celebra-se sob o tema “É tempo de restaurar as zonas húmidas”, enquadrando-se na Década das Nações Unidas para o Restauro dos Ecossistemas.
A data foi criada em 1972, após a “Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional, especialmente como Habitat de Aves Aquáticas”, que decorreu na cidade iraniana de Ramsar e, no ano passado, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu-a pela primeira vez como efeméride oficial. Portugal, que ratificou a Convenção em 1980, tem atualmente 31 Zonas Húmidas classificadas ao abrigo deste tratado, entre estuários, sapais e pauis, lagoas em altitude e turfeiras, segundo o ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas. Este tipo de área é muito afetado pela pressão socioeconómica e pelas alterações climáticas, que provocam a diminuição da biodiversidade e a degradação dos ecossistemas. As zonas húmidas retêm e filtram a água, sendo responsáveis pela maior parte da nossa água doce, são fundamentais para a biodiversidade (40% das espécies vivem ou reproduzem-se nesses espaços), atenuam o impacto de cheias e tempestades, armazenam carbono, são fonte de alimento e impulsionam o turismo de natureza. Porém, mais de 35% das zonas húmidas – naturais ou artificiais, permanentes ou temporárias, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada e foram degradadas ou desapareceram desde 1970.
Investir no restauro
Promover a proteção destas áreas é um compromisso internacional que tem de envolver governos, empresas e cidadãos. Em Portugal, a The Navigator Company investiu, em 2022, mais de 65 mil euros em projetos tendo em vista o restauro ecológico e reabilitação, incluindo a conservação de linhas de água e a reabilitação de charcas importantes para a biodiversidade.
Um dos principais projetos de restauro de linhas água e habitats confinantes, a decorrer na propriedade de Vale de Beja, no concelho de Odemira, há mais de 12 anos, contempla ações de restauro e conservação da floresta natural, com salgueiros, carvalhos, sobreiros, medronheiros e outras espécies nativas, em cerca de 40 hectares de zonas com interesse para a conservação da biodiversidade. Nuno Rico, responsável pela conservação da biodiversidade na Navigator, explica: “Fazemos a proteção de vários cursos de água com diferentes regimes (torrenciais a temporários), de carvalhais, sobreirais, zimbrais e outras zonas importantes para a conservação. A nossa a ação consiste na prevenção de impactos negativos, em potenciar os positivos e na contribuição para a integridade dos ecossistemas ribeirinhos e dos serviços que prestam. Realizamos também a sua monitorização, no sentido de perceber se há alterações ou ameaças ao seu estado”. Estes habitats são cartografados e é feita a avaliação da fauna e flora presente, sendo a sua avaliação feita por especialistas. De acordo com a avaliação as áreas são categorizadas pela sua importância e estado de conservação: zonas de conservação, áreas de proteção e áreas de alto valor de conservação, como o carvalhal de Quercus Faginea, que é um habitat natural da Rede Natura, que neste caso em concreto apresenta uma dimensão razoável e um bom estado de conservação. A empresa não pretende manter apenas as zonas que já existem, mas também aumentá-las e criar corredores ecológicos entre plantações de forma a garantir interconectividade. “Começámos por criar manchas de descontinuidade entre plantações”, afirma Nuno Rico. “Em algumas áreas foram plantados carvalhos e sobreiros. Noutras manchas, optámos por uma regeneração natural assistida, que consiste em dar uma ajuda às espécies pré-florestais e florestais, como os salgueiros, medronheiros, os carvalhos e sobreiros, fazendo o controlo seletivo da restante vegetação”, conta o responsável. Américo Oliveira, técnico florestal da Navigator há 35 anos, que esteve desde o início ligado a este trabalho de restauro de ecossistemas, garante que os resultados do esforço são visíveis: “Temos percebido, por exemplo, a presença crescente de pequenas aves que vêm nidificar nestas zonas e que não apareciam antes.” O próximo passo é avaliar qual é o retorno em termos de aumento da biodiversidade. Para isso, a Companhia colabora com a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, com vista ao desenvolvimento de mestrados com o objetivo de fazer este estudo.