Reportagens

Eucalipto cria riqueza em zonas menos produtivas

Na Serra d’Ossa, em zonas anteriormente abandonadas, a The Navigator Company promove impactos positivos na economia, com respeito pelo ambiente.

A Serra d’Ossa é como uma ilha no interior do Alentejo. Apesar de o solo ser predominantemente de xisto, com pouca profundidade, muita pedregosidade e níveis de matéria orgânica relativamente baixos, a altitude da serra altera as condições em termos de clima, que se torna aqui mais húmido e fresco, promovendo, ao longo de muitos anos, a acumulação de mais matéria orgânica no solo em relação à planície alentejana, mais árida e quente.

O potencial edafoclimático, relativo ao clima e ao solo, desta zona mais elevada, está entre os 2 e os 4, na escala de zero a dez (do menor para o maior) usada pela técnica de Zonagem desenvolvida pelo RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, laboratório de R&D detido pela The Navigator Company, Universidade de Aveiro, Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa, através do Instituto Superior de Agronomia. Esta é uma ferramenta de suporte à gestão florestal com características únicas no mundo. A classificação atual é já o resultado da instalação de eucalipto através de boas práticas silvícolas, que permitiu, nos últimos cinquenta anos, criar floresta produtiva e rentável nesta zona pouco fértil, e onde antes existiam terrenos abandonados.

A Herdade do Canal é a maior propriedade gerida pela Navigator na Serra d’Ossa, com 1.868 hectares que pertencem à Casa de Bragança desde o séc. XV. “Nos anos 60, com o abandono da atividade agrícola naquela zona, surgiu a necessidade de encontrar outras formas de rentabilizar a herdade”, revela Hugo Carvalho, delegado da instituição em Vila Viçosa. “Foram respeitadas as áreas de montado, onde se continuou, e continua, a fazer a extração da cortiça. Mas as áreas que estavam abandonadas e sem gestão foram arrendadas à antecessora da Navigator”, afirma. Para este responsável, “a boa gestão florestal feita pela empresa tem vantagens não só pela rentabilização da propriedade, mas também a nível ambiental. Os terrenos estão utilizados e a floresta cuidada, impedindo-se a erosão e a degradação dos solos”.

“Na serra conseguimos encontrar uma área onde o potencial de solo e clima se adapta às exigências do eucalipto globulus”, afirma José Vasques, coordenador da Zona Vale do Tejo do Departamento de Produção e Exploração Florestal da The Navigator Company. Muitas vezes a Serra d’Ossa amanhece com um ‘capacete’ de nevoeiro que proporciona a humidade que as folhas do eucalipto estão preparadas para capturar e aproveitar graças ao seu formato esguio e pendente, que potencia a acumulação da condensação, principalmente noturna.

Esta característica de aproveitamento hídrico, adaptada ao clima original da espécie, na Tasmânia, é em Portugal também uma mais-valia, sobretudo em zonas mais secas, como é o caso do sul do país. O globulus não gosta de frio, nomeadamente de temperaturas abaixo dos zero graus centígrados, nem de temperaturas muito altas e com muita humidade, que promovem muitas doenças. “Portugal é um retângulo ambiental com condições base ideais para esta espécie produzir de forma a rentabilizar os territórios mais despovoados do interior, gerando uma dinâmica local com impacto na criação de emprego, nomeadamente na atividade da restauração e do alojamento das pessoas que, durante todo o ano, cá vêm trabalhar”, defende José Vasques. “Esta rentabilidade permite também investir noutras espécies e na conservação”, conclui.

A Herdade do Canal é a maior propriedade gerida pela Navigator na Serra d’Ossa, com 1.868 hectares que pertencem à Casa de Bragança desde o séc. XV. “Nos anos 60, com o abandono da atividade agrícola naquela zona, surgiu a necessidade de encontrar outras formas de rentabilizar a herdade”, revela Hugo Carvalho, delegado da instituição em Vila Viçosa

Aumentar o potencial produtivo

A presença da Navigator na Serra d’Ossa iniciou-se no final da década de 1960, com testes de diferentes espécies de eucalipto, e realizaram-se três cortes antes de se fazer uma rearborização já com material clonal. O primeiro corte de material clonal foi realizado no final de 2022, em 450 hectares plantados na propriedade Canal, arrendada à Fundação Casa de Bragança. Atualmente, a empresa gere na serra cerca de 3.400 hectares, entre cinco propriedades de património próprio e duas arrendadas, mas nem tudo é eucalipto. Existem 163 hectares de sobreiro e 109 de pinheiro, entre outras espécies, para além de mais de 350 hectares de rede viária e faixas de gestão de combustíveis, e 119 hectares de áreas de interesse de conservação (incluindo um espaço arqueológico com vestígios do maior povoamento nacional da Idade do Bronze, que está a ser alvo de escavações arqueológicas, anuais, desde 2018.

Nas áreas de maior declive, o terreno é preparado em terraços, para evitar a erosão e reter mais a água

Para aproveitar de forma sustentável o potencial do globulus nesta zona, a gestão florestal da Navigator promove técnicas silvícolas adaptadas à orografia, ao solo e ao clima específicos da serra. Logo na preparação do terreno, o objetivo é dar melhores condições às plantas para se desenvolverem. Como precisam de espaço para fixar as raízes e procurar nutrientes e água, nas áreas de plantação começa por ser feita a desvitalização e fragmentação dos cepos da anterior plantação com uma enxó. Segue-se uma gradagem, que incorpora no solo o material que estava na superfície, através da ação de discos que reviram a terra e eliminam, ao mesmo tempo, espécies de mato concorrentes.

Posteriormente, com a ripagem, as máquinas passam um dente de ferro no terreno (em algumas condições de terreno poderão ser mais), que fragmenta o solo de xisto argiloso e cria a linha de plantação onde se potencia a retenção da água e as raízes se desenvolvem. “É um contributo para que o solo evolua mais depressa e se torne mais capaz de disponibilizar condições para as plantas crescerem”, resume o coordenador da Zona Vale do Tejo. Nas áreas de maior declive, porém, o terreno exige outro tipo de preparação, em terraços, ou patamares. No fundo, degraus que são feitos nas encostas por buldózeres ou máquinas de rastos, em curva de nível, para facilitar a circulação de pessoas e máquinas em segurança, mas também para evitar a erosão e reter mais a água – por isso o patamar tem uma ligeira inclinação para dentro. A ripagem que se segue é, neste caso, feita com três dentes que rasgam o patamar: a linha de fora é a de plantação e as duas interiores servem para potenciar a infiltração e retenção de água.

Nota: Excerto do texto originalmente publicado na revista Produtores Florestais nº 10, de maio de 2023, que pode descarregar aqui, para ler na íntegra.