Reportagens

A floresta é um território de pessoas e de esperança

Como valorizar a floresta e aumentar o conhecimento sobre ela? A segunda conferência organizada pela Navigator e pelo Expresso procurou respostas.

Valorizar, reequacionar, educar, desfazer mitos. Estas foram expressões transversais a muitas das ideias partilhadas na conferência “Valorizar a Floresta: pelas pessoas e pelo planeta”, promovida pela The Navigator Company em parceria com o jornal Expresso. Uma série de especialistas, representantes da comunidade empresarial, académica e científica, bem como decisores políticos, reuniram-se no passado dia 28 de junho, nas instalações da Impresa, em Paço d’Arcos, com o objetivo de debater a importância de conhecer melhor e cuidar da floresta portuguesa, nas suas múltiplas funções e serviços de ecossistema. 

António Redondo, CEO da Navigator, abriu o evento em conjunto com Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e da Ação Climática, salientando que quando a empresa aborda a valorização da floresta “é ao esclarecimento da sociedade que atribuímos uma das nossas prioridades – só conseguimos valorizar aquilo que entendemos bem”. O CEO explicou como uma matéria-prima de excelência nacional, “o extraordinário eucalipto português”, pode ter um papel fundamental na transição para uma bioeconomia circular sustentável, favorável para a natureza e neutra para o clima, capaz de substituir o atual modelo linear e fóssil”. Por tudo isto, disse, “a floresta é um território natural de pessoas e de esperança, por isso de futuro. E exige que olhemos para ela de forma esclarecida, holística e positiva”.

“Uma floresta gerida é uma floresta resiliente ao fogo”

O ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, começou por salientar que a importância da floresta não se resume à sua dimensão ambiental, sendo preciso olhar para os seus outros dois pilares de desenvolvimento: o económico e o socio-territorial. “Portugal é um dos países da União Europeia mais vulneráveis às alterações climáticas, com ondas de calor cada vez mais frequentes”, alertou. Neste contexto, uma gestão florestal ativa, o combate ao abandono de propriedades, e as sinergias entre o setor público e privado são estratégias de prevenção dos incêndios florestais. Um tema prioritário, considerou, por múltiplas razões, entre as quais o objetivo da descarbonização. “Não conseguiremos atingir a neutralidade carbónica se não melhorarmos a prevenção dos incêndios” alertou. “Uma floresta gerida é uma floresta resiliente ao fogo e muito mais sustentável”, resumiu o ministro. 

Pedro Norton de Matos, mentor e organizador do Greenfest, o maior evento de sustentabilidade do país, fez um enquadramento dos debates que se seguiram. Começou por falar da grande aceleração económica a partir de 1950, que “trouxe inegáveis ganhos civilizacionais, mas conduziu a um modelo com grandes assimetrias e impacto para o planeta”. O atual Pacto Europeu para o Clima e os desafios que coloca aos países foram também abordados, bem como o papel das florestas neste caminho de descarbonização e o bom exemplo da Navigator neste contexto. 

A floresta e o futuro do planeta

Na primeira mesa-redonda, Carlos Fiolhais, Professor de Física e comunicador de ciência, Cristina Máguas, Coordenadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Helena Pereira, Professora do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, Henrique Pereira dos Santos, Arquiteto paisagista, e Nélia Aires, Coordenadora da área florestal da Agro.Ges, falaram sobre a floresta e o futuro do planeta.

O debate abordou o papel da floresta para enfrentar os desafios das alterações climáticas, focando na importância da gestão ativa e na necessidade de aliar a valorização económica aos valores ecológicos e ambientais.

Num país onde a floresta é maioritariamente privada e de pequena dimensão, o repto está em encontrar formas de incentivar a gestão desses espaços, nomeadamente simplificando os processos e desburocratizando o acesso aos apoios. “Há que inverter a tendência” de muitos proprietários que “olham para a floresta não como um ativo, mas como uma fonte de despesa”, referiu Nélia Aires.

Uma opinião corroborada por Henrique Pereira dos Santos, que afirmou que “independentemente da legislação, se gerir as áreas não compensa financeiramente, o produtor não gere”, para deixar a sugestão: “porque não pagamos ao produtor florestal pelo serviço de ecossistema de gestão do fogo, através da limpeza?”.

A valorização dos serviços de ecossistema prestados pelas florestas esteve, de resto, subjacente a todo o debate. Carlos Fiolhais deu o mote, afirmando que “eu olho para uma árvore e vejo muitas coisas – vejo ar puro, sombra, biodiversidade, saúde física e mental, vejo livros – as florestas são uma coisa maravilhosa, que vão muito além de sumidouros de carbono.”

Cristina Máguas declarou, a propósito dos serviços de ecossistema, que “o grande desafio é passar do conceito de ‘produtor florestal’ para o conceito de ‘prestador de serviços’”, e que a forma de o fazer é remunerar esses serviços.

“A parte económica tem de ser sempre equacionada quando queremos defender a floresta”, resumiu Helena Pereira. 

A floresta e as pessoas

Reunidos em torno do tema “A Floresta e as Pessoas”, António Carlos Cortez, Professor, poeta e ensaísta, Dina Duarte, Presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, Eduardo Oliveira e Sousa, Engenheiro Agrónomo, Fernando Oliveira Batista, Professor aposentado do Instituto Superior de Agronomia, e Susana Garrido, Professora associada com Agregação na FEUC, partilharam os seus olhares sobre um ecossistema cuja importância transcendente o seu valor ambiental. 

Dina Duarte salientou o importante apoio que a população de Pedrógão Grande tem recebido da Biond, Associação das Bioindústrias de Base Florestal: “O que foi feito verdadeiramente no território foi através deste apoio, desde há mais de um ano. A Biond tem sido generosa, assumindo esta responsabilidade social.” E acrescentou: “A Biond tem a fórmula mágica para fazer aplicar a legislação de forma não burocrática (…). Basta pegar neste conhecimento e aplicá-lo”. 

A importância dos pequenos proprietários – “Foram eles que fizeram a floresta nacional” – foi realçada por Fernando Oliveira Batista, que apelou para o associativismo como forma de os representar. “A pequena propriedade tem uma economia própria que temos de respeitar”, alertou. 

“Uma floresta gerida é uma floresta resiliente ao fogo”, salientou Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e Ação Climática.

Susana Garrido defendeu a atribuição de uma contribuição “pelos serviços ecossistémicos prestados pela floresta, como incentivo direto aos proprietários para fazerem uma gestão mais sustentável da floresta”.

Ligar as pessoas à floresta passa também por desfazer mitos, considerou Eduardo Oliveira e Sousa: “Incêndios e monocultura são palavras que a opinião pública associa de imediato à floresta. As pessoas estão intoxicadas com ideias infundadas. O eucalipto é uma árvore magnífica, que trouxe tanta riqueza ao país! (…) Quando vemos um eucaliptal bem tratado, devemos ter orgulho”.

António Carlos Cortez, por seu lado, lembrou a necessidade de reequacionar o ordenamento do território, revertendo a desertificação do interior, e sublinhou a importância do papel, bioproduto que vem da floresta, na educação e na cultura: “Para haver memória e cidadania, o papel não pode ficar subjugado pela digitalização”. 

A conferência foi encerrada por João Lé, Administrador Executivo da The Navigator Company, que salientou a ação da Companhia na valorização da floresta, nas suas múltiplas vertentes. E concluiu com um foco no futuro: “As florestas são o garante de um planeta melhor para as futuras gerações.”