Reportagens

PREPARAÇÃO CERTA É INVESTIMENTO PARA O FUTURO

As fases de preparação e plantação de um eucaliptal são determinantes para a produtividade que ali resultará durante um ciclo de 30/40 anos.

Quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita. O provérbio popular bem se pode aplicar na exploração florestal, pois é o que se faz na instalação de um povoamento que determina o seu sucesso. Os sinais da nossa floresta são muito claros: povoamentos muito antigos, pouco investimento e uma quase ausência de gestão, o que explica a sua falta de produtividade e, ao mesmo tempo, um maior risco de incêndios nestes tempos de transformação climática. Vista como um património muito importante do ponto de vista ambiental e social é, no entanto, o interesse económico da floresta que, em muitas ocasiões, permite a conservação e a sustentabilidade desse património.

Ganhar a aposta na floresta passa pelo aumento da sua produtividade, com a adoção de boas práticas de gestão que salvaguardem a sustentabilidade deste recurso natural. Foi com este objetivo que surgiu o projeto Melhor Eucalipto, iniciativa que divulga o conhecimento técnico de uma indústria que lida com esta espécie florestal desde meados do século XX e quer contribuir para a melhoria da gestão operacional das plantações de eucalipto.

O principal investimento numa plantação de eucalipto acontece nos primeiros 4-5 anos de cada rotação de 12 anos.

“Dois terços do eucaliptal não têm qualquer tipo de gestão. Os proprietários colhem a madeira de 12 em 12 anos e no entretanto não praticam uma silvicultura adequada. E só bastava algum investimento para obter mais retorno, menos custos por metro cúbico de madeira produzida e mais madeira, com a vantagem que este ainda representa na prevenção e defesa contra os incêndios”, afirma à Produtores Florestais Francisco Goes, coordenador do projeto Melhor Eucalipto.

Os primeiros anos são decisivos

Tudo começa nos cuidados a ter em conta na preparação do terreno, na instalação das plantas e na manutenção do povoamento nos primeiros anos. Com uma plantação bem feita há maiores probabilidades de sucesso produtivo e financeiro e financeiro a 30-40 anos, uma vez que o eucalipto tem ciclos de 12 anos e as suas raízes permanecem viáveis para três rotações (cortes).

“O maior investimento acontece nos primeiros 4-5 anos de cada rotação. Se as coisas forem bem feitas nesse período o proprietário florestal terá, muito provavelmente, maior rentabilidade do investimento efetuado, caso não ocorra nenhuma catástrofe. Depois basta apenas um acompanhamento de manutenção e, claro, manter o foco na prevenção, como a limpeza dos matos que potenciam o risco de incêndios”, acrescenta Francisco Goes.

Floresta

O eucaliptal pode ser rentável e importante para a economia rural, mas precisa de ter regras e boas práticas associadas que contribuem também para a sustentabilidade da floresta. A gestão na produção florestal precisa ter em atenção as pessoas, quem trabalha na floresta e as comunidades que a rodeiam, mas também os aspetos ambientais, como a biodiversidade nos espaços florestais, a disponibilidade de água e a qualidade do solo.

Projeto “Melhor Eucalipto”

Transformar conhecimento muito técnico e científico numa linguagem mais simples para proprietários florestais foi o que esteve por base do projeto Melhor Eucalipto, cujo pontapé de saída foi dado em 2015. Promovida pela CELPA, a Associação Industrial Papeleira, esta iniciativa percorre o país com ações de informação sobre as boas práticas silvícolas, tendo já reunido cerca de 1 200 proprietários e duas centenas de técnicos e estudantes universitários.

O eucaliptal pode ser rentável e importante para a economia rural, mas precisa de ter regras e boas práticas para a sustentabilidade da floresta. 

A parte central do projeto é o site www.celpa.pt/melhoreucalipto/ no qual estão disponíveis dois simuladores, desenvolvidos em parceria com o Instituto Superior de Agronomia e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e que qualquer pessoa pode consultar: um para avaliação da produtividade, com uma base geográfica, onde se pode escolher a freguesia onde instalar a plantação e perceber o crescimento esperado; e outro para simulação financeira, que apresenta uma estimativa de rendimento, depois de introduzidos custos, preço expectável da madeira, produtividade esperada, etc.