Reportagens

Mais formação florestal para garantir eficiência

Navigator apoia novo curso superior florestal da Fundação para a Promoção e o Desenvolvimento Rural da Galiza.

Engenheiro florestal, antigo deputado, ex Diretor-Geral de Conservação da Natureza e de muitas associações do setor e agências governamentais, primeiro presidente do Cluster da Madeira da Galiza, há 21 anos, e consultor da The Navigator Company para os assuntos de política florestal, Ricardo García-Borregón é um profundo conhecedor do setor. No dia em que recebe a Produtores Florestais em Santiago de Compostela, fá-lo enquanto patrono da Fundesar, Fundação para a Promoção e o Desenvolvimento Rural da Galiza, que tem como principal objetivo dar apoio técnico e económico às três escolas de formação agrária da região, com as quais a Navigator colabora há cerca de três anos ao nível da formação florestal.

A primeira novidade que este especialista anuncia, para 2023, é o arranque do primeiro curso superior florestal. Um projeto da EFA – Federação de Escolas Familiares Agrárias da Galiza, em colaboração com as empresas que têm necessidades de profissionais florestais nesta cadeia de valor. Até agora, a formação tinha estado muito centrada no setor pecuário, apesar de já existir, nos cursos de paisagismo e de meio rural, alguma componente florestal. “Temos uma formação académica muito personalizada do profissional rural e o contacto com as empresas permite promover uma formação atual e com componente prática nas empresas”, destaca o patrono.

A Galiza é uma região onde o setor florestal tem um grande peso económico. “Representa 50% de toda a exploração florestal espanhola. Dois terços do nosso território é florestal e em 2022 cortaram-se quase 10 milhões de metros cúbicos de madeira. Desses, quase 5,5 milhões são eucalipto, uma matéria-prima fundamental para a indústria, mas também para a rentabilidade dos proprietários”, afirma Ricardo García-Borregón. Mas há algo que falta nesta cadeia de produção. O especialista considera que “aumentando a produção surge a necessidade de se obter a eficiência necessária para colocar essa madeira no mercado”.

Uma questão de eficiência

A Fundesar quer resolver essa lacuna através das suas escolas agrárias e das empresas do setor. “Temos muita mão-de-obra não especializada, porque é um trabalho duro e aqui o trabalhador florestal não tem o reconhecimento social que tem nos países nórdicos. Queremos fazer essa transformação, de melhoria das condições económicas melhorando a eficiência e a formação dos operários.” Esse é, em sua opinião, o papel da EFA e o seu, enquanto patrono da Fundesar e, ao mesmo tempo, colaborador da Navigator.

Atualmente existem duas escolas superiores de engenharia florestal e uma escola de capacitação florestal. A novidade que a Fundesar pretende promover não está na parte académica, mas na experiência de 50 anos das escolas agrárias, com uma formação prática junto das empresas e das explorações agrárias e madeireiras, e das famílias que as financiam e estão ligadas ao setor. “Queremos diferenciar-nos ao unir a formação académica a uma formação integrada nas famílias e nas empresas. A formação prática é combinada diretamente com estas”, explica. As empresas parceiras podem ainda oferecer bolsas de estudo para alunos com poucos recursos.

Ricardo García-Borregón considera que a aposta num currículo inovador é fundamental, porque a floresta não produz apenas madeira, mas também muitos serviços de ecossistema que a sociedade valoriza, como o mercado de carbono, a energia, ou as fibras têxteis, “e é preciso saber fazer isso”. E acrescenta: “Há uma economia da floresta que há uns anos não existia e que temos de saber aproveitar e planear de forma mais global. É uma questão que faz parte da própria filosofia de empresas como a Navigator. Produzir madeira de qualidade com a maior eficiência, sim, mas sem esquecer as outras funções que a floresta e sociedade necessitam.”

“O apoio da Navigator neste projeto, que tem o objetivo de melhorar a qualidade técnica dos operários florestais”, tem sido financeiro e agora pretende-se que seja também alargado à parte da formação prática. Foi com a ajuda da companhia que a Fundesar avançou já com a certificação europeia de motosserrista. “Em 2023, o curso superior será um novo degrau seguindo a política da Navigator de estar presente na Galiza desde a produção e o arrendamento de terras, passando pelo apoio técnico e económico aos pequenos proprietários florestais. Não é só comprar madeira, mas ir à base do problema para termos qualidade”, conclui García-Borregon.

O apoio da Navigator neste projeto, que tem o objetivo de melhorar a qualidade técnica dos operários florestais, tem sido financeiro e agora pretende-se que seja também alargado à parte da formação prática.

Da sua longa experiência ao nível da política pública florestal na Galiza, como vê a situação atual e o futuro do setor?

Penso que o setor florestal na Galiza sempre foi tratado com a importância que merece dentro da economia agrária e fundamentalmente rural. A cadeia de valor da floresta, madeira e indústria significa hoje uma faturação de quase 2,5 mil milhões de euros na Galiza e é parte importante da produção industrial. Acredito que o futuro é positivo. A floresta não produz apenas madeira, mas também frutos, cogumelos, caça e até energia, com a biomassa. É uma economia fundamental na região.

Que desafios surgem?

Temos uma estrutura de propriedade de minifúndio na Galiza, como no norte de Portugal, e essa é uma desvantagem para fazer uma boa planificação florestal. Julgo que o desafio está em encontrar soluções inovadoras para incentivar essa propriedade pequena a fazer uma gestão integrada e de qualidade. Nisso, a Navigator é uma empresa com iniciativa, dando ideias para estimular esse pequeno proprietário, que é fundamental para a economia.

A moratória que proíbe novas plantações de eucalipto na região ate 31 de dezembro de 2025 terá algum impacto?

Não sou partidário de proibições, mas do ponto de vista político talvez fosse necessário fazê-lo. Acredito que o equilíbrio das espécies é feito pelas necessidades e, se não for assim, se quisermos ter uma moratória, temos de ter fluxos financeiros suficientes para permitir ao proprietário ter a sua própria liberdade em relação ao que plantar, de acordo com os incentivos da administração florestal. Julgo que isto em breve se esclarecerá, após termos um inventário florestal atualizado, dando certa liberdade ao proprietário, dando-lhe incentivos e deveres em relação à uma planificação florestal. Não basta fazer qualquer coisa. Há que fazê-lo bem.