Reportagens

Uma solução de abastecimento de grande proximidade

A compra de madeira de eucalipto na Galiza é necessária para cumprir as necessidades industriais nacionais.

Dos parques logísticos da The Navigator Company, na Galiza, saem todas as semanas, em média, cerca de 13 comboios carregados de madeira para as fábricas de Aveiro e Figueira da Foz. Este transporte, regular, é complementado com fluxo de transporte marítimo de cerca de 30 navios por ano, por necessidade de reduzir os stocks nos parques, sendo que, por navio são transportadas entre 3 mil a 4 mil toneladas, enquanto a capacidade do comboio ronda as 600 toneladas.

Nas três infraestruturas situadas em Susana, Ferrol e Corunha – os dois últimos parques com ligação marítima – trabalham-se seis dias por semana para gerir a atividade logística da empresa na região galega, onde o crescente volume de compra de madeira a fornecedores, com alguma sazonalidade, exige constante movimentação de matéria-prima. Por norma, o período entre março e outubro são os meses mais fortes de abastecimento de madeira na Galiza e os contratos de transporte têm de ter atenção a especificidades como as festividades que, em Espanha, se prolongam pelo início de janeiro, por altura do Dia de Reis.

No futuro, a angariação e pontuais compras de terra, serão uma nova fonte de abastecimento de madeira, complementar à do mercado. Abel Fernandez, coordenador da Logística da Galiza, ressalva a importância da “ligação estreita com a equipa logística em Portugal, bem como com a equipa comercial aqui ao nosso lado na Galiza. Estamos todos coordenados para que o abastecimento aos centros fabris de Portugal seja o mais fluido possível. É um objetivo comum de equipa e empresa”. Um objetivo de curto, médio e longo prazo, como destaca Gonçalo Vieira, diretor de Abastecimento de Madeira da Navigator: “Não somos apenas compradores de madeira na Galiza a partir do momento em que arrendamos terras por 12 ou 24 anos e compramos, existindo a oportunidade. É um sinal claro que vamos cá estar pelo menos durante mais de duas décadas e isso é uma mensagem importante que passamos tanto aos nossos fornecedores como aos proprietários, atuais e futuros.”

Proximidade com os fornecedores

O número de fornecedores da Navigator na Galiza tem crescido, embora não haja muitos, devido à forte concorrência existente e ao facto de ser uma atividade que “vem de gerações anteriores”, explica Gonçalo Vieira. “O número de fornecedores no mercado é relativamente estável, tendo nós conseguido criar como os nossos, uma relação de proximidade que é muito valorizada. Estamos regularmente com eles no terreno, desenvolvemos projetos e iniciativas diferenciadoras e levamo-los a conhecer as nossas fábricas e o RAIZ, em Portugal, para melhor dar a conhecer a nossa dimensão, sustentabilidade e know-how florestal. Além disso, somos diferentes no trato e na política comercial, que tentamos seja estável ao longo dos anos. Os fornecedores sabem com o que podem contar e isso é fundamental porque eles compram madeira hoje para cortar daqui a um ou dois anos.”

Apesar da prospeção regular de outras empresas, os irmãos Juan e Miguel Carril, sócios da empresa Maderas Carril, optaram por trabalhar em exclusivo com a Navigator ao nível do eucalipto, desde 2007, e não têm dúvidas. “Tratam-nos bem e quando se tem alguma coisa que funciona bem, não se muda. É uma empresa muito solvente que paga a horas e tem um bocadinho menos de burocracia que as espanholas”, comenta Miguel. A empresa, familiar, foi criada pelo pai e existe com esta designação desde 1995. Possui 300 hectares de terras próprias na Galiza e para corte uns 4 a 5 mil por ano, com 90% de eucalipto, o que representa cerca 240 mil toneladas totais e 180 mil de eucalipto.

Juan e Miguel Carril, dois dos sócios da empresa familiar Maderas Carril, o maior fornecedor da Navigator na Galiza

A mata de 5 hectares que estavam a cortar no município de O piño aquando a visita da Produtores Florestais, foi um trabalho de cinco dias a um ritmo de corte de 300 toneladas diárias com três máquinas. “É o maior fornecedor que temos na Galiza porque é uma empresa muito bem equipada, muito profissional, que compra grandes matas na zona de Santiago de Compostela”, afirma Celso Marra Bolano, responsável de Compra de Madeira na Galiza. Gonçalo Vieira acrescenta que “são mais do que um fornecedor, são um parceiro da Navigator, sempre à procura da eficiência”. Juan Carril confirma a aposta da empresa em “maquinaria de última geração e em pessoal qualificado” – em 1995 tinham um camião e um trator e agora têm 25 equipamentos e 25 funcionários –, o que permite garantir um trabalho constante e em segurança.

A elevada procura de madeira na região levou a uma evolução muito positiva da gestão florestal do eucalipto, na opinião de Miguel Carril. “Nos últimos dez anos, melhorou 300% em termos de planta, de instalação e de serviços. A certificação fez também com que as pessoas queiram ter uma coisa com mais qualidade.” A Maderas Carril foi, na Galiza, a primeira empresa de exploração florestal a ser certificada, em 2001, e acumulam agora o selo PEFC e FSC®. “Aquilo que recebemos a mais da indústria por isso, passamos aos proprietários, o que os anima. Plantam mais e gerem um pouco melhor. Só lamentamos a perseguição às novas plantações de eucalipto. Quase não deixam as empresas trabalhar. O Estado parece não saber que o mundo rural tem de viver de alguma coisa”, desabafa.

Apoio do setor florestal ao mundo rural

A empresa Hermanos García Rocha está bem presente junto da comunidade rural. Por ano, cortam madeira em mais de 500 explorações de diferentes proprietários, nas províncias de Corunha e Lugo. Podem ter, ao mesmo tempo, operações em parcelas muito diferentes. É o caso no concelho de Coirós, onde duas pessoas cortam em quinze dias um eucaliptal de 5 hectares com cerca de 13 anos, no topo do monte, com uma máquina de corte e uma máquina processadora que tratam mais de 200 toneladas de madeira por dia. A curta distância, num pequeno aglomerado urbano com um acesso onde não passam grandes máquinas, quatro motosserristas estão há uma semana a cortar eucaliptos globulus numa plantação com 3 mil metros quadrados e 50 anos, onde algumas árvores pesam 10 toneladas, quando uma planta de dez anos tem normalmente mil quilos. Ainda não vão sequer a meio.

Gonçalo Vieira e dois técnicos da Navigator no terreno, com Benito García, um administrador e um técnico da empresa Hermanos García Rocha

Com origem nos anos 1950, quando o avô de Benito García, o atual representante legal da empresa, se dedicava já à exploração florestal, esta sociedade, constituída em 1974, é o segundo maior fornecedor de madeira da Navigator na Galiza, em termos de volume, e um dos primeiros, desde 2007. Com apenas cerca de 100 hectares próprios, dos quais 80% é eucalipto, a sua atividade é complementada com uma serração, onde transformam sobretudo madeira de pinheiro, num total de 80 funcionários diretos. “O setor florestal já tem um peso muito significativo no Produto Interno Bruto da Galiza”, refere Benito García. “Representamos quase 3%, com mais de 20 mil trabalhadores e com uma faturação que supera os 3 mil milhões de euros, e a evolução dos últimos anos tem sido muito positiva, com a mecanização da extração e da transformação.” Todos os anos a empresa tem aproveitado o apoio que a Navigator dá aos fornecedores para o investimento em equipamento, o que permite “modernizar a atividade”, admite o gestor.

Para o futuro, considera que os principais desafios serão ao nível da sustentabilidade e da bioeconomia circular. “Para já temos madeira suficiente para o mercado, mas temos de pensar todos no tema da silvicultura moderna que leve a um aumento da matéria-prima e da sua qualidade, porque aqui na região, muito devido ao minifúndio – fala-se em mais de 600 mil proprietários – ainda se faz uma silvicultura semiprofissional”, afirma. Celso Marra Bolano, o responsável de Compra de Madeira na Galiza, especifica que a região produz 5,5 milhões de toneladas de madeira de eucalipto por ano e, neste momento, cerca de 1 milhão segue para Portugal. “Quando a procura da indústria de papel cresce, por muito eucalipto que se corte, já não é suficiente e as empresas, tanto espanholas como portuguesas, têm de importar de fora da Europa”, lamenta.

Nota: Artigo publicado na revista número 10, de maio de 2023, e inserido num especial sobre a atividade da The Navigator Company na Galiza, que pode ler na íntegra descarregando a revista aqui.