Reportagens

A Leitão & Cavaleiro é uma escola profissional

O objetivo de Paulo Cavaleiro é proporcionar estabilidade laboral numa atividade dura, com limitação às operações no verão.

“Ando sempre a tentar inovar. Tento sempre arranjar melhores métodos para haver uma boa produção florestal e uma boa qualidade de serviço”, refere Paulo Cavaleiro, sócio-gerente da Leitão & Cavaleiro, quando lhe perguntamos por que razão acha que é considerado uma referência de qualidade na prestação de serviços florestais. Em todos estes anos – a empresa existe desde 1994 e, antes, era encarregado de exploração florestal numa subsidiária da Soporcel – viu e acompanhou muita evolução.

“Por exemplo, nas preparações de terrenos: dantes fazia-se arrasto de cepos, retirando os nutrientes do solo. Agora, todos os cepos são destroçados e incorporados nos solos – todas as precauções exigidas pela certificação também fazem com que haja mais cuidados. Até o tipo de planta é diferente, antigamente plantávamos seminais e agora é quase tudo clonais. Antes plantava-se com enxada, hoje é com plantadores. E, na The Navigator Company, fui eu que fiz adaptações aos plantadores manuais, para usar com plantas de eucalipto com substrato mais largo e alto”, conta.

Na propriedade da Avesseira, arrendada pela Navigator em Oleiros, pudemos vê-los em ação. Em 37 hectares com inclinação, onde existem terraços para potenciar a retenção de água e diminuir a erosão, foram instalados no inverno passado cerca de 40 mil clones de eucalipto híbrido, desenvolvido pelo RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel (laboratório de I&D detido pela The Navigator Company, Universidade de Aveiro, Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa, através do Instituto Superior de Agronomia) para resistir à praga do gonipterus. Para os sete homens da Leitão & Cavaleiro, quando a chuva não prejudica muito os trabalhos, são seis dias a plantar e mais dois a adubar.

Numa propriedade arrendada pela Navigator em Oleiros, plantaram cerca de 40 mil clones de eucalipto usando plantadores alterados por Paulo Cavaleiro.

A empresa presta todos os serviços de manutenção florestal e, na instalação, faz tudo que envolva mão-de-obra – o que quer dizer que faz plantação, mas não preparação de terreno. Faz inventário florestal, seleção de varas, adubações, gradagens, limpezas de mato, e foi “uma das primeiras empresas a trabalhar para a Navigator com certificado e licença para aplicação de fitofármacos, o que não é fácil, porque são grandes as burocracias”, afirma o sócio-gerente.

A Leitão & Cavaleiro desenvolve a sua atividade sobretudo na zona centro, pois está sediada em Taveiro, no concelho de Coimbra. Sendo a Navigator quase o único cliente – “eles estão sempre a fazer floresta, a manter floresta e a limpar floresta”, explica Paulo Cavaleiro –, a empresa adapta-se para responder às expectativas, desempenhar as funções com qualidade e ter pessoal suficiente, apesar da atual dificuldade para encontrar trabalhadores florestais. “O trabalho é duro, mas felizmente temos 60 ou 70 por cento de colaboradores (que são 18 no total, todos contratados a tempo inteiro) que já estão connosco há muito tempo e estão capacitados para fazer todo o tipo de trabalho florestal”, afirma Paulo Cavaleiro, que trabalha na silvicultura desde os 23 anos e que recebe muitos telefonemas de pessoas que não conhece a pedir conselhos sobre como fazer isto e aquilo na floresta.

Estabilidade laboral na atividade florestal

Essencial para manter a estabilidade laboral do pessoal é a continuidade de trabalho durante todo o ano. Nisso, têm uma enorme ajuda. “A minha empresa, com uma estrutura sólida, capacidade de resposta e pessoal de qualidade e jovem, não existia sem a Afocelca”, garante Paulo Cavaleiro. No verão, quando as operações florestais quase param, o pessoal vai todo fazer a campanha de combate a incêndios deste agrupamento complementar de empresas dos grupos Navigator e Altri, cuja estrutura profissional trabalha em colaboração com a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil. Os colaboradores da Leitão & Cavaleiro são, essencialmente, chefes de equipa, condutores e motosserristas, e ainda contrata cerca de mais 50% a 60% de pessoal.

O próprio sócio-gerente está envolvido neste esforço de defesa da floresta desde que o grupo foi criado, em 2002, e nas equipas helitransportadas desde 2012. No total, tem cerca de 40 pessoas e dois camiões de combate a incêndios ao serviço da Afocelca. “Geralmente, vou às escolas agrárias e outras faculdades contratar gente para tentar pô-los na floresta e para que ganhem amor por isto, e tenho tido sucesso, com pessoas que até chegam a mudar de cursos”, refere o responsável.

Durante o combate aos fogos, Paulo Cavaleiro tem reparado noutra evolução: a atitude dos proprietários para com a floresta de eucalipto. “A Biond tem feito um ótimo trabalho na difusão da espécie e com programas como o Limpa e Aduba. Temos mais restrições na plantação – o que não devia acontecer na zona litoral, onde o eucalipto é a espécie mais produtiva e rentável, e, portanto, estamos a tirar riqueza ao país e às pessoas –, mas os proprietários já trabalham melhor o eucalipto e investem mais na floresta. Na zona centro e norte, tudo o que é eucalipto está mais bem limpo que as outras espécies. E conseguimos parar tantos incêndios na floresta jovem de eucalipto!”, afirma.

Seis dos motosserristas da Leitão & Cavaleiro, a quem Paulo Cavaleiro chama “os Ronaldos da seleção de varas”.

Valorizar os trabalhadores florestais

Apesar dos momentos de perigo que já passou no combate aos incêndios florestais – o pior foi mesmo o de 15 de outubro de 2017, quando ficou três vezes rodeado de fogo na zona da Lousã e Góis –, o trabalho no resto do ano também tem as suas dificuldades.

Na propriedade do Pessegueiro, na Pampilhosa da Serra, encontramos uma equipa de seis motosserristas da Leitão & Cavaleiro debaixo de chuva, a fazer seleção de varas de eucalipto, para “tentar tornar este povoamento (que já foi entregue à gestão da Navigator com alguma idade) mais sustentável, por forma a ter uma melhor produção”, explica Paulo Cavaleiro. “Temos dez pessoas capacitadas e com formação de motosserrista para realização desta tarefa, e selecionamos sempre os mais experientes e com maior destreza. São os Ronaldos da seleção de varas.” Num dia, por norma, cada um consegue limpar mais de um hectare.

“O trabalho florestal é muito duro e as pessoas têm de ser valorizadas”, afirma o sócio-gerente. “Os próprios parâmetros da certificação protegem os trabalhadores, ao exigirem formação, equipamentos de segurança e obrigações sociais, mas nós temos de ir além do exigido. Aposto muito nos jovens e a Leitão & Cavaleiro é uma escola profissional”, acrescenta com orgulho.

Nota: Artigo publicado originalmente na revista n.º 11, de setembro de 2023, que pode descarregar para ler na íntegra aqui.