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Cultura de segurança rumo aos zero acidentes

O 2º Seminário Segurança no Trabalho Florestal discutiu como “Trabalhar em segurança para ganhar em produtividade”.

“Não há nenhum acidente que não possa ser evitado”, afirmou Paula Monteiro, diretora de Segurança e Sistemas de Suporte da The Navigator Company, no 2º Seminário Segurança no Trabalho Florestal, que se realizou no dia 9 de abril, na Escola Superior Agrária de Ponte de Lima.

Superando em participação a anterior edição, este seminário foi de novo organizado em parceria pela The Navigator Company, a Autoridade para as Condições do Trabalho e a ‌Associação para a Certificação Florestal do Minho-Lima, tendo reunido especialistas portugueses e galegos para discutir formas de mitigar o número de acidentes de trabalho na floresta. A conclusão foi unânime: as empresas devem adotar uma cultura de segurança, dando o exemplo no terreno e mostrando que é possível corrigir comportamentos para ter melhores resultados. “Temos de trabalhar na mudança de comportamentos, e, quando digo isto, refiro-me a irmos para o terreno protegidos de forma exemplar e mostrar a todos os que lá estão como se deve fazer”, referiu a diretora de Segurança da Navigator.

Sandra Sarmento, Diretora Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Norte, colocou o foco na importância do setor florestal para a economia, a biodiversidade e a luta contra as alterações climáticas, contrapondo que “esta estratégia não pode ficar comprometida por acidentes”. Para esta responsável, a certificação florestal tem também um papel relevante na introdução da “cultura de segurança e boas práticas” nas empresas. Este tema da certificação florestal foi também realçado por Elizabete Abreu, da ACF Minho-Lima, que desenvolve trabalho no terreno, dando o exemplo do apoio recebido do Fomento Florestal da Navigator.

A Lugomadera, associação florestal galega que congrega 280 empresas ligadas à primeira transformação da madeira, exemplificou como a estratégia de formação e prevenção pode ser eficiente: “O investimento na prevenção é o melhor seguro para a viabilidade das empresas”, defendeu Nuria Rodríguez, secretária-geral da associação, exemplificando que a Lugomadera disponibiliza ações formativas dirigidas a trabalhadores florestais e alunos de cursos profissionais de âmbito florestal, tendo formado 436 trabalhadores em 2023, mas sempre com “o pé no monte”.

Uma prática também assumida pela Escola Superior Agrária de Ponte de Lima, conforme explicou a sua diretora, Maria Isabel Valin: “Ministramos cursos técnicos e profissionais, ações de curta duração sobre responsabilidade na melhor capacitação e maior segurança na floresta, e convidamos todas as instituições que queiram aliar-se a nós”.

Números que preocupam

Joaquim Silva, diretor do Centro Local do Alto Minho da Autoridade para as Condições do Trabalho, reiterou a importância de as empresas apostarem em Planos de Prevenção de Acidentes de Trabalho, uma vez que “em Portugal, o setor da agricultura e floresta é o terceiro com mais acidentes de trabalho, depois da construção civil e do setor da indústria transformadora”.

O diretor territorial da Inspeção de Trabalho e Segurança Social da Galiza, Demetrio Fernández López, divulgou que “Mais de metade da madeira cortada em Espanha é na Galiza. E em 2023 foram registados 1.179 acidentes de trabalho, dos quais 1.148 ligeiros e 24 graves, tendo 7 trabalhadores perdido a vida”, salientando que estes números “muito negativos” e em contraciclo com os anos anteriores levaram à criação de várias campanhas de sensibilização e prevenção de acidentes.

O futuro com a tecnologia e as pessoas

José Luís Carvalho, responsável de Inovação e Fomento Florestal da Navigator, moderou a mesa-redonda, na qual Filipe Santos, do INESC TEC, e João Pereira, da Moviter, trouxeram a tecnologia para a conversa, mostrando exemplos de como aumentar a segurança nos processos de trabalho florestais, com sistemas de aviso eletrónicos e sistemas interativos com o trabalhador. Neste debate, Henriqueta Dias, da AEST (Associação de Empresas de Saúde e Segurança no Trabalho), explicou o papel dos técnicos de segurança, e Paula Monteiro, da Navigator, reforçou a responsabilidade individual e a necessidade de criar rotinas diárias de segurança, relembrando que cabe a cada um de nós ajudar e avisar dos riscos. Ficou claro que “quem cala consente”, cabendo a cada um de nós ser um agente ativo na segurança.

Tomando como ponto prévio que “é nas pessoas e nos comportamentos que começa e acaba a segurança”, João Pereira apresentou dois exemplos de como a tecnologia pode ser uma aliada: automação de processos e digitalização. No primeiro, foram abordados os riscos durante o processamento de árvores, sendo que os sensores nas máquinas alertam o operador quando há perigo; já o segundo traz a possibilidade de introduzir mapas de campo (os operadores comunicam entre si e sabem as áreas onde podem trabalhar) e cercas eletrónicas (sensores que alertam o operador de que a máquina corre perigo ou se encontra perto de outras pessoas).

“Não há nenhum acidente que não possa ser evitado”, frisou Paula Monteiro

Filipe Santos lembrou que o INESC TEC “tem vindo a testar a sensorização na área agrícola e com os bombeiros, e sistemas com melhor ergonomia”, além da utilização de “simuladores, que permitem testar as máquinas sem risco para o operador”.

Nuno Neto, diretor Florestal da The Navigator Company, encerrou o debate com um apelo à “importância de olharmos por nós, mas também uns pelos outros”, uma vez que “os acidentes em espaço florestal acontecem muitas vezes quando as pessoas não estão sozinhas, pelo que não fica mal chamar a atenção quando percebemos que alguém está exposto a riscos”. Referiu também que para reduzir a sinistralidade e os acidentes é importante partilhar práticas e aproximarmo-nos.

Ver como se faz

Na parte da tarde, houve a apresentação da ferramenta digital de avaliação de riscos OIRA, por Emilia Telo, da ACT, disponível aqui.

O evento encerrou com três sessões de demonstração prática em: Simulacro de acidente na floresta – Primeiros Socorros; Demonstração de EPIs anti-corte – Sthil; e Operação de tratores em segurança – Carlos Montemor, ACT, nas quais houve interatividade com os presentes oriundos de todo o país e da Galiza, juntando representantes das autoridades, empresários florestais, técnicos de segurança, investigadores, alunos e outros profissionais do setor, já a aguardar pela terceira edição.

Assista ao seminário aqui: https://www.youtube.com/watch?v=LFnS3YtYMe0