Reportagens

Aposta na limpeza para uma maior (e mais segura) produção

José Rafael candidatou 100 hectares de eucaliptal ao programa Limpa & Aduba, como forma de obter apoios para o seu modelo de gestão.

José Rafael recorreu ao programa Limpa & Aduba – uma iniciativa da Biond, associação das bioindústrias de base florestal, inserida no projeto Melhor Eucalipto – para obter apoio para o modelo de gestão que adotou para os seus povoamentos de eucalipto. “Com essa ajuda, conseguimos aumentar a rentabilidade do povoamento com custos mais reduzidos”, garante.

Caracterizada por solos pobres de charneca e pelo microclima de que beneficia por estar abrigada da influência do Atlântico pela serra de Montejunto, a Quinta da Vassala e Vala Nova alberga, em simultâneo, exploração de eucalipto e vinha. Foi o pai de José Rafael quem, em meados do século XX, iniciou a plantação de eucalipto na propriedade, em terrenos até então não cultivados. Já neste século, alguns eucaliptais foram reconvertidos para o cultivo da vinha, o que confere à quinta uma paisagem de mosaico agroflorestal.

José Rafael gere 500 hectares distribuídos por quatro propriedades e, embora não seja esta a sua atividade principal – é engenheiro civil –, tem na floresta uma verdadeira paixão. Isto levou-o a repensar o modelo de gestão florestal, de modo a garantir um contínuo de produção. “Costumo dizer que tendemos a passar do estatuto de proprietário florestal para o de produtor florestal. Isto demorou algum tempo e estamos agora na fase final, que é a de fazer a programação da exploração, de modo a ter uma rotatividade uniforme na produção. Passámos a ter uma gestão da área total, de maneira a ter uma produção regular”, explica. “O que temos aqui é uma rentabilidade média, em que englobamos as parcelas que têm menos capacidade de produção com as que têm maior capacidade”, afirma o produtor, que admite que é “algo que demora tempo e obriga a uma certa visão de conjunto, conceção e estratégia.”

Neste âmbito, José Rafael decidiu recorrer ao Limpa & Aduba, cujo objetivo é apoiar os produtores florestais na adoção de boas práticas de manutenção dos seus eucaliptais. No caso da Quinta da Vassala, foram abrangidos pelo programa cerca de 100 hectares de eucaliptal certificado, atualmente com seis anos. Para José Rafael as vantagens são múltiplas: “Além do apport que traz na produção, tem também a vantagem do controlo dos matos e da carga térmica nas parcelas. A indústria faz bem em apoiar este tipo de intervenção, porque é algo que mobiliza os produtores para a melhoria da gestão da floresta, com o aumento da produtividade e a diminuição do risco, com o controlo da vegetação e dos matos”, refere o produtor.

No seu caso pessoal, e embora não tenha ainda dados quantitativos que permitam atestar o aumento de produtividade das parcelas abrangidas, não tem dúvida sobre o impacto positivo deste tipo de intervenções, que se juntam a uma série de outras opções de gestão, como a seleção de varas mais adequada.

Com o passar dos anos, e feito o registo das diferentes parcelas, será possível estabelecer uma análise comparativa que, acredita, será útil no futuro. “Nós não somos verdadeiramente proprietários do povoamento, o que fazemos é cuidar dele para a geração seguinte”, defende José Rafael.


Limpa & Aduba melhora produtividade

O objetivo do programa é promover a limpeza dos terremos e a sua correta adubação. Depois de submetida a candidatura junto das entidades parceiras do programa – associações ou empresas florestais, grupos de certificação florestal, prestadores de serviços florestais, entre outros –, o proprietário é visitado por um técnico florestal que analisa o terreno e o estado do povoamento e fornece indicações sobre o controlo da vegetação e a seleção de varas. Feita a limpeza, o programa oferece o adubo e apoia na operação. É dada prioridade às áreas que se encontrem certificadas ou em processo de certificação, casos em que os proprietários poderão beneficiar de apoio até 50 hectares. Para proprietários não aderentes à certificação florestal, a área máxima apoiada são 25 hectares.

Artigo publicado originalmente na revista n.º 12, de dezembro de 2023, que pode descarregar aqui: https://www.produtoresflorestais.pt/quero-receber-a-edicao-da-revista-em-papel/