Consultório Técnico

Boas práticas na preparação do terreno

Preparação do terreno deve criar condições no solo para o desenvolvimento das raízes e promover o crescimento inicial das plantas.

A instalação de povoamentos é a primeira fase de um investimento florestal que, no caso do eucalipto, se prevê por mais de 30 anos no terreno. É composta por quatro etapas: elaboração e licenciamento do projeto, preparação do terreno e infraestruturas, escolha da planta, e plantação. A preparação do terreno tem como objetivo criar condições no solo para o desenvolvimento das raízes e o crescimento inicial das plantas. Pode ser dividida em três fases:

• Controlar a rebentação dos cepos da rotação anterior, através do arranque, destroçamento ou desvitalização química, para evitar o ensombramento à nova plantação e a competição pelos recursos água, luz e nutrientes.

• Reduzir a carga de biomassa resultante do corte, de vegetação existente e dos cepos, para a adequada preparação do solo e plantação.

• Mobilizar o solo para o descompactar e diminuir a sua resistência à penetração das raízes das plantas.

Permite, ainda, com a maioria das máquinas/ equipamentos utilizados, realizar o alinhamento de plantação, evitando a operação adicional de “balizamento” (plantação em esquadria), bem como facilitar a realização das operações seguintes, principalmente as com recurso a meios manuais ou moto-manuais, como a plantação, adubação e o controlo de vegetação espontânea. Para o sucesso da plantação, os primeiros anos são muito importantes, até ao desenvolvimento das copas.

A aplicação de boas práticas silvícolas traz benefícios vários nas características físicas, químicas e biológicas do recurso solo e favorece o crescimento das plantas. Promove também a salvaguarda dos recursos hídricos e dos núcleos de biodiversidade coexistentes nos ecossistemas florestais de produção.

Cuidados com os recursos hídricos

Privilegiar técnicas que promovam a manutenção da quantidade e qualidade dos recursos hídricos, evitando a sua perda, degradação, assoreamento ou contaminação, tais como:

• Salvaguardar as distâncias de proteção às linhas de água e outros pontos de água;

• Atravessar as linhas de água com maquinaria apenas onde existam ou sejam colocadas estruturas adequadas para o efeito. Excecionalmente, em caso de inexistência de infraestruturas, o atravessamento deve ser realizado em zonas de solo firme;

• Não circular nas linhas de água com máquinas;

• Evitar a queda de cepos ou sobrantes de exploração da rotação anterior nas faixas de proteção das linhas de água e, caso aconteça, analisar a situação e avaliar a sua remoção sem danificar a vegetação;

• Salvaguardar as distâncias de segurança às faixas de proteção dos diferentes recursos hídricos na desvitalização química dos cepos, exceto se devidamente autorizada pela entidade competente.

Cuidados com o solo

Privilegiar técnicas que promovam a diminuição do risco de erosão e de compactação do solo, a estabilização da sua temperatura e a retenção da humidade, a manutenção ou aumento de matéria orgânica, carbono e nutrientes no solo, tais como:

• Destroçar os cepos, os sobrantes e a vegetação existente, usando, sempre que possível, técnicas que permitam criar uma camada de mulching no solo;

• Reconstruir os terraços com inclinação ligeira para o seu interior;

• Assegurar a realização de desvios de água nas infraestruturas viárias, sendo importante manter uma boa drenagem e prever que a escorrência aconteça para a faixa de plantação;

• Orientar a armação do solo no sentido das curvas de nível;

• Privilegiar a mobilização de terreno de forma parcial, na zona de plantação ou em faixas;

• Respeitar as concentrações e doses de produtos químicos indicadas nos rótulos, na legislação e nas fichas técnicas dos produtos;

• Em caso de derrames de óleos ou outros líquidos ao solo, conter e recolher os produtos.

Cuidados com a biodiversidade e bens culturais

Privilegiar técnicas que promovam a manutenção e o enriquecimento da biodiversidade na floresta de produção, tais como:

• Preservar núcleos de espécies protegidas existentes;

• Manter as faixas de proteção indicadas na legislação para as áreas a preservar;

• Respeitar os períodos de interdição de operações mecânicas;

• Salvaguardar as distâncias de proteção a bens culturais ou sociais existentes.

Em qualquer operação florestal, além dos cuidados com o ambiente, devem ser garantidas todas as boas práticas de segurança, nomeadamente na utilização dos equipamentos de proteção coletiva e de proteção individual, e de salvaguarda das distâncias de segurança.

Artigo da autoria de Daniela Ferreira (RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel) e de Susana Morais (The Navigator Company), publicado originalmente na revista n.º 13, de março de 2024, que pode descarregar aqui.