Reportagens

Na vanguarda da gestão florestal

O 4º Encontro Produtores Florestais reuniu especialistas e agentes do setor para debater a modernização da atividade florestal.

Inovação, tecnologia, investimento, modernização e valorização foram das palavras mais ouvidas no encontro anual Produtores Florestais. Perante uma sala cheia, os oradores convidados deram o seu contributo no aprofundamento do tema “Modernização e rentabilidade na floresta – A tecnologia ao serviço da gestão sustentável”.

O evento, que decorreu no Observatório do Sobreiro e da Cortiça, em Coruche, no passado dia 4 de julho, foi o 4º encontro da comunidade Produtores Florestais. A abertura da sessão esteve a cargo de Susana Cruz, vereadora da Câmara Municipal de Coruche, que considerou que a iniciativa cumpre um papel fundamental na tão necessária “transferência de conhecimento entre a indústria, universidades, centros de investigação e os produtores, para garantir melhor floresta, com melhor gestão e melhor ordenamento”.

Seguiu-se a intervenção de João Lé, administrador executivo da The Navigator Company, que relembrou a evolução do projeto Produtores Florestais ao longo dos seus quatro anos de vida.  Com um website dedicado e uma revista em papel, que vai na sua 14ª edição, a comunidade conta agora também o Clube Produtores Florestais – um Clube que tem como eixos principais “a promoção da gestão ativa da floresta, a defesa da produção de madeira nacional, e a mitigação dos riscos de incêndio, para proteger os rendimentos e a segurança da população rural e de quem investe”, sublinhou.  

Mas a ação do Clube passa também, acrescentou, por “valorizar o capital natural, estimular a captura de CO2, preservar ecossistemas ou trabalhar com todos os agentes do setor para que haja possibilidade de modernizar equipamentos”. Através dessa modernização, garantiu João Lé, “teremos mais eficiência e a redução de emissões, sendo que este é um contributo que todos temos de estar preparados para dar à sociedade”.

Se o investimento é importante, as linhas de financiamento são essenciais

O Clube Produtores Florestais continuou como tema central na apresentação que Paulo Santos, da The Navigator Company, e João Cruz, da Caixa Agrícola, fizeram de seguida, dando realce ao protocolo recentemente assinado entre as duas entidades. “Um dos objetivos do Clube é o de poder oferecer aos seus sócios condições para que encontrem uma solução que financie a 100% o investimento de que necessitam, e, depois da assinatura deste protocolo, podemos afirmar que tal é possível”, afirmou Paulo Santos.

João Cruz revelou que os sócios do Clube terão acesso a um mínimo de 20% de desconto nos indexantes das taxas de juro, para além de outras vantagens, como desconto na comissão de abertura, e redução ou isenção de outras comissões.

João Cruz, da Caixa Agrícola, apresentou os benefícios a que os sócios do Clube Produtores Florestais podem aceder, através do protocolo estabelecido.

As pessoas são uma peça-chave

Teresa Silva, da Área de Inovação e Desenvolvimento Florestal da The Navigator Company, apresentou uma série de inovações que estão a ser desenvolvidas pela Companhia, através de diversas parcerias, e que contribuem para “criar valor na floresta”.

Falou ainda de como a digitalização dos equipamentos e máquinas está a revolucionar a atividade florestal: “A digitalização vai ser uma realidade, já está a sê-lo, contribuindo para a modernização e para a rentabilidade da floresta”, assegurou. “Mas digitalização não é só tecnologia, precisamos de pessoas”, alertou. E, por isso, a Navigator e a Altri, através da Biond, em conjunto com a Forestis e a Fenafloresta, desenvolveram um projeto para capacitação de operadores florestais, o Advance Forest. “A componente humana é o que define o conceito da floresta 5.0, focado na relação homem-máquina e na sustentabilidade ambiental e social que é necessário integrar na floresta”, concluiu.

Pedro Gaspar, da Ascendum Máquinas, focou igualmente a importância da formação ao apresentar um programa deanálise da eficiência de frotas, que contribui para a redução de consumos e para o consequente incremento dos lucros e diminuição das emissões de CO2. “Há um mundo sem fim neste sentido da otimização”, garantiu.

Carlos Fonseca, do ForestWise, lembrou os marcos mais importantes da história deste laboratório colaborativo, criado em 2018, na sequência dos grandes incêndios de 2017. Deu destaque à Agenda Transform, do PRR, que conta com a coordenação técnico-científica do ForestWise, e que junta 56 copromotores, entre os quais a Navigator. “Com 136 M€ de investimento, e integrando cerca de 30 projetos, contribuirá, pela sua abrangência e impacto, para a transformação de muitas componentes da cadeia de valor da floresta”, assegurou.

Novo mundo dos mercados de carbono rodeado de incertezas

Um momento aguardado com bastante expectativa foi a intervenção do consultor Paulo Canaveira, que abordou as “Novas oportunidades de rentabilidade do Mercado Voluntário de Carbono”. “Será este novo mundo uma grande oportunidade, ou será que a montanha pariu um rato?”, preguntou o especialista, de forma retórica. E recorreu a outra expressão popular para responder: “O diabo está nos detalhes e estes ainda estão por definir. Ainda é difícil perceber o que vai acontecer.” No fundo, explicou, tudo depende do que vai ser decidido, em termos de grau de exigência face aos parâmetros envolvidos. “Quanto maior a exigência, maior força e credibilidade terá o crédito, mas menos volume de créditos existirão no mercado. Nesta definição, que vai agora ser feita em Portugal, haverá consulta e envolvimento público”, acrescentou.

O consultor Paulo Canaveira aprofundou o tema das novas oportunidades de rentabilidade trazidas pelo mercado voluntário de carbono.

Dar voz à floresta e ao mundo rural

Na mesa-redonda, moderada por José Luís Carvalho, responsável pela Inovação e Desenvolvimento Florestal da Navigator, debateu-se “O investimento na inovação”.

Rita Bonacho, da Associação Produtores Florestais de Coruche, referiu que “o principal desafio, quando se fala de trazer a inovação para a floresta, é conseguir que ela seja escalada para todos os associados, nomeadamente os de pequena dimensão”. As associações têm, neste ponto, um papel muito importante “na transferência de conhecimento”, considerou.

A monitorização dos equipamentos é uma das áreas que está a revolucionar a exploração florestal. Francisco Manso, da Trigger Systems, mostrou-se especialmente entusiasmado com os resultados da colaboração que a empresa tem desenvolvido com a Navigator: “Instalámos nas máquinas da Companhia sistemas de monitorização e registo de dados que tornam a informação acessível em tempo real num simples telemóvel”.

Mas não basta ter os dados registados, é preciso saber o que fazer com eles, de forma a apoiar decisões. Pedro Matos Silva, Diretor de Tecnologia Digital da The Navigator Company, destacou o desenvolvimento da área da análise de dados e a capacidade de desenvolver modelos preditivos – “uma área que, na floresta, é absolutamente fundamental”, considerou.

Uma área menos desenvolvida é o chamado ADN Ambiental. António Mendes, da SGS, explicou o que é e como poderá revolucionar todas as atividades relacionadas com a floresta: “Recolhemos amostras ambientais, que nos permitem identificar os rastos de ADN de todos os seres vivos de um determinado habitat”. O capital natural da floresta será, assim, conhecido ao detalhe. “Dentro de uns anos, todo este valor terá também o seu mercado, tal como hoje acontece com o carbono. Haverá uma revolução genética, a par com a revolução digital”, defendeu.

A fechar a sessão em sala, António Redondo, CEO da Navigator, lançou um apelo à audiência: “A floresta e o mundo rural dão tanto ao país e não têm voz. Estes encontros servem para lhes dar voz. Mas gostávamos que essa voz não fosse apenas a da indústria, e que os produtores se juntassem a nós e conseguíssemos dar à floresta e ao mundo rural a voz que merecem e que precisam”.

José Luís Carvalho (à esq.), responsável pela Inovação e Desenvolvimento Florestal da Navigator, moderou a mesa-redonda que juntou (da esq. para a direita): Rita Bonacho, da Associação Produtores Florestais de Coruche; Francisco Manso, da Trigger Systems; Pedro Matos Silva, Diretor de Tecnologia Digital da The Navigator Company; e António Mendes, da SGS.

No terreno

Depois de uma manhã rica em partilhas e apresentação de novidades, os participantes no Encontro Produtores Florestais deslocaram-se à Herdade dos Fidalgos para assistir, no terreno, a demonstrações de equipamentos inovadores desenvolvidos pela Fravizel e a Trigger Systems, em parceria com a Navigator. Além das vantagens que oferecem em termos de eficiência e rentabilidade, os equipamentos que os participantes puderam ver em ação trazem também benefícios ambientais – não só pela menor mobilização do solo, como pela redução das emissões de CO2.

Demonstração no terreno de equipamentos inovadores.

i-TEC Floresta, uma nova plataforma by Navigator

Ainda no tema Inovação e Fomento, apresentou-se um novo projeto que vai, seguramente, ser útil aos produtores florestais. O i-TEC Floresta foi criado para lhes disponibilizar um conjunto de informações normalmente difícil de encontrar, agora transposto para formato web e acessível a todos. Já estava a ser disponibilizado às OPF pela área do Fomento (Susana Morais), com o apoio do Raiz (Daniela Ferreira), presencialmente, e agora ficará à distância de um click.

A nova plataforma irá ter três menus principais: um geovisualizador (com a cartografia aplicada à gestão de eucaliptais); um geocatálogo (com a lista da cartografia disponível para descarregar em diferentes formatos); e geoferramentas de modelação, com vários simuladores úteis à gestão. O i-TEC Floresta estará disponível em data a anunciar no site do Clube Produtores Florestais Navigator.

Assista aqui à gravação completa do evento: https://www.youtube.com/live/dFejZxrob-U