Reportagens

Para além das perceções

Estudo procurou identificar as ideias mais comuns sobre o eucalipto e os eucaliptais, auscultando o conhecimento e as posições que existem na sociedade.

Apresentado na sessão colaborativa do Fórum do Eucalipto, o estudo “Para Além das Perceções” é um primeiro passo essencial para avaliar a sensibilidade e as noções presentes na sociedade portuguesa face à floresta de eucalipto. Só assim será possível desenhar estratégias para melhor comunicar a importância da fileira, com base no conhecimento técnico-científico produzido nos últimos anos.

Esse é um dos objetivos do Fórum do Eucalipto, uma iniciativa da The Navigator Company, através da qual pretende contribuir para um maior esclarecimento sobre o tema, em particular sobre as florestas plantadas de eucalipto e o papel essencial que assumem na construção de modelos de desenvolvimento mais sustentável. Realizado por uma equipa do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, o estudo quantitativo baseia-se nas respostas a um questionário, realizado em fevereiro deste ano, e que contou com um painel de 604 participantes – uma amostra por quotas, nas variáveis género, idade, região e grau de instrução, de acordo com a distribuição da população portuguesa no continente.

Proximidade com a floresta não se traduz em conhecimento

Quase um terço dos respondentes (31,8%) afirmam ser proprietários de terrenos florestais ou ter familiares que o são – um valor que expressa uma forte relação dos portugueses com a floresta. Dentro deste grupo, mais de metade (54%) têm eucaliptos. Mas, perante a pergunta sobre se este é uma espécie exótica (não nativa), 37% dos participantes não sabem/não respondem. Entre os que afirmam ter eucaliptais, ou familiares que os têm, a percentagem dos que afirmam “não saber” é menor, mas, ainda assim, elevada: 29%. Apesar do significativo desconhecimento sobre a espécie, que ficou também patente noutras perguntas – como a que questionava se o eucalipto é uma espécie invasora (30,5% não responderam e 35,1% responderam afirmativamente) – os inquiridos mostraram um elevado grau de concordância relativamente à ideia de que “uma floresta bem gerida é benéfica para o país, independentemente da espécie plantada”.

A afirmação mereceu o acordo da maior parte dos participantes no estudo (72,3%), sendo que, numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde à discordância total e 5 à concordância total), a média de respostas ficou situada em 4,3. Também expressiva é a adesão à ideia de uma política de crescimento da área florestal que compatibilize espécies de produção com as que têm valor de conservação – 66,2% dos respondentes são favoráveis a este aumento da área de floresta, enquanto apenas 6,8% discordam dessa hipótese.

O que os portugueses pensam sobre o impacto do eucalipto na biodiversidade, no solo e na água

Mais de um terço dos inquiridos considera que as florestas de eucalipto condicionam a biodiversidade: 35,2% concordam com a afirmação “Numa floresta de eucalipto é difícil crescerem outras espécies de plantas ou qualquer espécie de animal”. 29,1% reconhecem o seu desconhecimento sobre o tema, optando por não responder. Já a hipótese de o eucalipto provocar o esgotamento dos solos, por consumir mais nutrientes, recebe a concordância de 41,6% dos inquiridos. Essa é uma convicção transversalmente aceite, ou seja, não há variações significativas entre os respondentes que têm e os que não têm terrenos florestais, entre os que vivem nos centros urbanos e os que vivem em zonas mais interiores, ou de acordo com o grau de instrução. Em relação ao impacto das florestas plantadas de eucalipto nos recursos hídricos, metade dos inquiridos (49,5%) acreditam que estas consomem mais água do que as outras espécies florestais.

O que os portugueses pensam sobre a relação do eucalipto com os incêndios florestais

Um terço dos inquiridos (33,3%) defende que há uma associação entre o número de incêndios e a existência de áreas de eucalipto, ou seja, consideram que se não houvesse eucaliptais em Portugal, não haveria tantos incêndios florestais. Mas é também expressiva a percentagem de respondentes que não concordam com esta ideia: 25,5%. Os que não sabem/não respondem atingem os 21,4% da amostra. Em relação às áreas que mais ardem, 35% dos participantes no estudo afirmam que em primeiro lugar se encontram os matos, enquanto 27% pensam que serão os eucaliptais.

Mais consensual é a questão da relação entre gestão florestal e incêndios: a maioria dos inquiridos (75,8%) concorda com a ideia de que “As florestas bem geridas têm menos risco de incêndio”. Ao contrário de tantos outros temas em que existe, invariavelmente, uma percentagem significativa de participantes que não sabem/não respondem, neste ponto o número de “não respostas” é reduzido. Tal como é residual o número de pessoas que pensam não haver relação entre a boa gestão e o risco de incêndio.

Artigo publicado originalmente na revista n.º 14, de junho de 2024, que pode descarregar aqui.