Reportagens

Proteção e nutrição do solo

Utilizar as práticas silvícolas mais adequadas a cada tipo de terrenos e clima permite aumentar a qualidade e a saúde do solo.

As características dos solos portugueses, muitos deles com uma profundidade efetiva reduzida, elevada pedregosidade, baixa fertilidade natural e acidez elevada, restringem o seu uso agrícola, criando assim uma aptidão para a instalação florestal. Sendo o solo um recurso natural não renovável, com qualidades físicas, químicas ou biológicas que podem ser degradadas, mantidas ou enriquecidas pela ação humana, a gestão florestal assume um papel importante na sua proteção. Quando bem geridas, de acordo com as diferentes condições edafoclimáticas (relativas ao solo e ao clima), as florestas plantadas, nomeadamente as plantações de eucalipto, podem exercer um papel semelhante ao das florestas naturais na proteção do solo.

As espécies florestais já são, à partida, mais eficazes na utilização de recursos abióticos (luz, água, CO2 existente na atmosfera, temperatura, nutrientes do solo) do que as culturas agrícolas. No caso do eucalipto, a espécie não é muito exigente em relação ao tipo de solo, podendo crescer em zonas pouco férteis e ácidas, e as suas necessidades de nutrientes minerais (N, P, K, Ca, Mg e micronutrientes) são cerca de 10 vezes menores do que as das culturas agrícolas.

Mais nutrientes

A biologia do solo, ou seja, a interação dos seres vivos do solo com a matéria orgânica e as raízes das plantas, é fundamental para a saúde do terreno, favorecendo a produtividade de biomassa e a biodiversidade acima do solo. Num estudo realizado em Espanha, por exemplo, ficou provado que o cultivo de eucalipto pode melhorar estas propriedades: os nutrientes devolvidos ao solo pela espécie permitem reduzir a sua acidez, o que é determinante para a fertilidade, em comparação com solos de povoamentos de espécies como o sobreiro, o carvalho e o pinheiro.

E outros estudos mostram que, no mesmo período, o eucalipto retira consideravelmente menos nutrientes do que outras espécies florestais ou culturas agrícolas. Nos povoamentos de eucalipto, quando as cascas, as folhas e os ramos – que concentram até 70% dos nutrientes da árvore – caem e se decompõem, aumentam a quantidade de matéria orgânica no terreno e, assim, a riqueza dos seus microrganismos, permitindo a esta árvore devolver quase tudo o que retira do solo. Até na altura da recolha da madeira, uma boa gestão permite compensar o impacto da retirada de alguns nutrientes da plantação, através da incorporação dos sobrantes do corte no solo, uma vez que a exploração está concentrada no tronco que, embora corresponda a 80% da biomassa total da árvore, é uma parte com menos nutrientes. O cultivo desta espécie permite, ainda, o desenvolvimento de perfis de solo mais férteis, através da acumulação de raízes finas na camada superficial do terreno, o que otimiza a absorção e minimiza possíveis perdas de nutrientes, e ajuda no controlo da erosão. O sistema radicular superficial do eucalipto dá-lhe a capacidade de melhorar os solos quando instalado em áreas de incultos, matos ou terrenos agrícolas abandonados, existindo diversos exemplos de terrenos que, após décadas de eucaliptais, foram reconvertidos com sucesso em vinhas, olivais, pomares ou hortícolas.

Proteção contra a erosão

As principais causas do fenómeno são: a destruição do coberto vegetal, ficando o solo vulnerável ao aquecimento e ao arrastamento pela chuva ou vento; a compactação que resulta do pastoreio ou da utilização de máquinas; o excesso de mobilização do solo que destrói a sua estrutura e reduz a matéria orgânica; e o nivelamento e destruição de estruturas (como vales ou muros) que impedem o escorrimento superficial. Com 80% do seu sistema radicular nos primeiros 40 a 80 centímetros da camada superficial do solo, os eucaliptos protegem o solo da erosão: ajudam a segurar o terreno, melhoram a sua estrutura, contribuem com matéria orgânica, aumentam a taxa de infiltração da água e impedem o escorrimento de partículas. O risco de erosão é também reduzido devido à proteção física que é dada pelas copas, que crescem mais depressa do que noutras espécies, protegendo o solo do impacto direto das gotas de água.

Boas práticas de gestão para proteger o solo

<> Mobilização mínima do solo aquando da preparação, de acordo com a orografia do terreno, mas geralmente com gradagem superficial;

<> Fertilização adequada à fase de crescimento para corrigir o défice nutricional, melhorar o balanço geoquímico de nutrientes no ecossistema, e proporcionar maior cobertura vegetal do terreno para reduzir o risco de erosão e aumentar a capacidade de retenção de água e o teor de matéria orgânica, por via do aumento da produção de biomassa;

<> Condução de povoamentos em regime de talhadia, em regra geral durante três rotações, aproveitando a rebentação natural das toiças para minimizar as intervenções no solo, reduzir a exposição direta à chuva que provoca a sua desagregação, e aos raios solares, que podem elevar a temperatura do solo, com consequente aumento da evaporação;

<> Incorporação dos sobrantes pós-corte (casca, ramos e folhas) para manter ou melhorar a qualidade do solo ao longo dos sucessivos ciclos de cultivo.

O eucalipto globulus não é muito exigente em relação ao tipo de solo, podendo crescer em zonas pouco férteis


Artigo publicado originalmente na revista n.º 14, de junho de 2024, que pode descarregar aqui
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