Gestão florestal transforma comunidade
A gestão florestal sustentável de um baldio de 120 hectares transformou a vida das pessoas na aldeia de Linhares, em pleno coração do Minho.
Em 2012, num baldio comunitário em Linhares, no Minho, nasceu um eucaliptal que, durante 24 anos, irá contribuir para o desenvolvimento agropecuário e a preservação da floresta autóctone da freguesia, tendo já comparticipado na educação e na saúde daquela comunidade rural. Depois de dois incêndios que devastaram parte da floresta desta freguesia do concelho de Paredes de Coura, a população insistiu na exploração florestal dos seus baldios. Hoje, esta área gera uma renda anual, durante 24 anos, que reverte para a comunidade local, para o desenvolvimento da agricultura e da pecuária, e para a conservação das florestas autóctones da freguesia.
“São estes 120 hectares, que rendem cerca de 15 mil euros/ano, que servem de sustento deste projeto de desenvolvimento rural”, sublinha Amândio Pinto, presidente da Assembleia de Compartes dos Baldios de Linhares desde 2009, destacando ainda a ajuda social que o dinheiro proveniente do baldio já deu no apoio à educação dos mais novos, à saúde e ao bem-estar dos cerca de 200 habitantes da aldeia.
O novo capítulo na floresta de Linhares começou em 2012, quando a população mandatou a comissão que gere os baldios (terrenos municipais atribuídos nos anos 70 à freguesia para uso e usufruto de todos) a arrendar à The Navigator Company (então Portucel) uma área de 120 hectares, que foi de pinheiro, mas que ardeu duas vezes, em 2005 e em 2010, deixando a terra sem sementes.
Fomentar a atividade agropecuária
Os baldios de Linhares têm uma área total de 260 hectares e a parcela entregue à exploração florestal é de 120 hectares, sendo que a área útil de plantação de eucalipto é perto de 80 hectares, sobrando o resto para caminhos largos, zonas de corta-fogo e zonas de conservação (proteção de linhas de água e nascentes, afloramentos, etc.). “Em 2012 vivíamos os anos da crise, da troika, e as primeiras rendas foram usadas na ajuda à população, ao nível da saúde, da educação, agricultura, pecuária, etc.”, recorda o líder da Assembleia de Compartes. Os fundos gerados pelo baldio comparticiparam aulas de explicações aos mais novos, consultas médicas, lenha para aquecer as casas da aldeia e até a distribuição de animais (porcos, galinhas) para o desenvolvimento da atividade agropecuária.
Ao todo, são 120 ha que servem de sustento a um projeto comunitário de desenvolvimento rural
Com o desaparecimento do pastoreio da atividade económica na região, a Assembleia de Compartes de Linhares passou a investir a maior parte do seu orçamento (75% assegurado pela renda do eucaliptal) nos cuidados com a restante floresta, composta sobretudo de áreas de pinheiro-bravo e carvalho. Há quatro anos foi mesmo feita uma plantação de carvalho americano, numa área de cerca de dois hectares. “O investimento na floresta surgiu a partir do momento em que a rentabilizámos e passámos a ter verbas para cuidar e limpar. As pessoas trabalham na preservação da floresta e esta distingue-se da que existe nas freguesias à volta”, refere Bruno Pereira, outro dos filhos da terra.
Os compartes possuem diverso equipamento para a atividade agrícola – alfaias, capinadeira, semeador em linha pneumático, pulverizador, aivecas, fresa, rolo, dois tratores e uma cisterna com capacidade para 5000 litros, entre outros – e também um veículo 4×4 equipado com kit de incêndio de primeira intervenção, que só foi possível com a colaboração da Navigator. “Inclusive chegou a criar-se uma equipa de bombeiros aqui na freguesia, com formação para apagar incêndios. O nosso monte fartou-se de arder porque isto não existia antes”, acrescenta Bruno.