Reportagens

Melhor floresta: a certificação da cadeia de valor

A Unimadeiras foi criada por pequenos proprietários florestais e hoje é uma referência no fornecimento de madeira.

Esta é uma história sobre “como os mais pequenos se tornaram os maiores”, contada pelo neto do fundador da Unimadeiras e atual presidente executivo desta empresa de produção, comércio e exploração florestal, Jorge Loureiro. Em 14 de outubro de 1974, 39 empresários florestais decidiram juntar-se para serem o maior fornecedor de rolaria na Portucel Cacia e, assim, usufruírem do bónus que crescia com a quantidade.

O crescimento abriu horizontes para outros clientes e outras fábricas do atual Grupo The Navigator Company e, em 1984, esses 39 associados eram já 71. Duas décadas depois eram 580 acionistas. Agora são 628, graças a aumentos progressivos de capital social, o que vai acontecer novamente em 2023, para abrir aos fornecedores e outros produtores a hipótese de participarem. “Desde 1998 que damos dividendos e as ações são muito pretendidas e ninguém se desfaz delas”, admite Jorge Loureiro.

Cerca de 65% do negócio da Unimadeiras ao nível do eucalipto corresponde a rolaria certificada e o presidente da empresa acredita que os 100% estão para mais breve do que se imagina.

Os negócios têm corrido bem e aos acionistas da Unimadeiras foi necessário começar a juntar outros fornecedores. Hoje estão mais de 3 mil ativos. A faturação cresceu de 2 milhões de euros em 1984 para mais de 76 milhões em 2021, com o eucalipto a representar atualmente 63% do volume de negócios e a The Navigator Company, enquanto o maior dos 60 clientes, a contribuir para 44% do volume de faturação da Unimadeiras, sendo que 75% deste corresponde a rolaria certificada.

Certificação em toda a cadeia de valor

A certificação faz parte da evolução da Unimadeiras desde 2006, quando criaram o Grupo de Certificação Unifloresta e, dois anos depois, obtiveram a certificação FSC®, com 54 proprietários florestais. Desde então, o crescimento médio do número de membros tem sido de 30% ao ano; foi constituído, em 2011, o Unigrupo – Gestão da Cadeia de Responsabilidade em grupo; e, desde 2012, a empresa está também certificada pelo sistema PEFC.

“Em 2006, vimos que a certificação era o caminho de que já se falava e antecipámo-nos”, admite Jorge Loureiro. “Tanto é que só em 2012 ou 2013 é que passou a ser pago um prémio pela madeira certificada.” Foi trabalhoso convencer os primeiros aderentes. Em cinco anos só cresceram 70 membros, mas assim que a indústria começou a premiar a certificação florestal, ganharam logo mais 65.

Isto “acrescentou uma nova gestão florestal, novas práticas, um plano de gestão florestal”, confessa o presidente executivo. Para além do incentivo financeiro da indústria, “com uma nova mentalidade de gestão e toda a operação muito mais bem estudada, das análises de solo ao plantar e adubar, surgiu o argumento do aumento de produtividade. Em vez de tirarmos 150 toneladas por hectare podemos tirar 220 ou 250”.

Paulo Almeida, técnico florestal da Unimadeiras, confirma que os acréscimos podem ser desta ordem, “dos 20 até aos 50%”, embora sejam variáveis e a dinâmica do grupo não permita isolar aquilo que é reflexo apenas da gestão e aquilo que são as entradas de diferentes zonas do país com produtividades diversas. Isto porque a atividades da Unimadeiras há muito que se estendeu de Albergaria-a-Velha para todo o país. E, agora, a empresa tem já, também, cerca de 400 hectares de floresta própria, de norte a sul, certificada.

Neste momento cerca de 65% do negócio da Unimadeiras ao nível do eucalipto corresponde a rolaria certificada e Jorge Loureiro acredita que os 100% estão para mais breve do que se imagina. “Três a quatro anos. Só não é hoje porque a indústria ainda não disse que só recebe madeira certificada. Nós estamos prontos para aceitar esse desafio”, admite. Noutras espécies, a certificação tem estado mais atrasada, mas isso pode começar a mudar, já que “as outras indústrias começaram, desde o ano passado, a premiar a madeira ao mesmo nível do eucalipto, com quatro euros por unidade”.

Como “nasceu dos pequeninos”, é esse tipo de produtor que a empresa faz questão de representar, o que tem até uma média de 12 500 toneladas de madeira por ano. A Unimadeira não só “não nega a entrada a ninguém, como tanto paga por uma carga como por mil”, garante Madalena Pinheiro, outro dos administradores da Unimadeiras. Todos os serviços são grátis para os produtores e fornecedores, desde a formação à avaliação de material lenhoso, passando até pela certificação de gestão florestal. Além disso, explica a dirigente, “criamos dinamismo no mercado ao pagar aos fornecedores no prazo de quatro a cinco dias, embora as indústrias paguem, em média, a 54 dias. Somos uma espécie de agência. Quem trabalha connosco, vai crescendo”.