Reportagens

“A FLORESTA É A INSTITUIÇÃO BANCÁRIA DAS PESSOAS”

Cerca de 80% da área do concelho de Mortágua é floresta. Júlio Norte, o autarca local, explica como esta é vital para a economia da região.

Julio Norte

Qual a importância da floresta no concelho de Mortágua?

A floresta tem uma importância primordial no concelho de Mortágua. O concelho tem 250 km2, dos quais 80% são floresta, sendo que cerca de 85% dessa floresta é eucalipto. Como outros concelhos, Mortágua também passou pelo problema dos incêndios, mas conseguiu renascer e hoje não tem um metro quadrado de área por florestar. Houve uma consciencialização das pessoas, a colaboração do município e todos deram as mãos para repor a floresta. A floresta é a instituição bancária das pessoas quando precisam recorrer a ela para o orçamento familiar, para a educação dos filhos, para a compra de um carro ou para fazer obras em casa. A floresta apoia as pessoas e, por isso, tem de ser tratada com muito amor e carinho.

Que desafios enfrenta o município e que ações têm sido desenvolvidas em prol da floresta?

A falta de cadastro criou alguns problemas no processo de reflorestação. Não sei como é possível ordenar a floresta sem saber de quem ela é, o que lá existe, quais as condições… Tudo isso é determinante. Temos de saber qual o potencial do solo, a árvore mais adequada, as características do clima e, por isso, trouxemos a universidade até Mortágua. Atualmente, estamos a desenvolver dois projetos, com o Politécnico de Viseu e com a Universidade de Coimbra em parceria com o RAIZ, que é quem mais sabe da floresta. Além disso, desenvolvemos inúmeras ações, pensando na preservação da floresta, na sua exploração e no turismo. Temos 2 700 km de caminhos florestais; criámos uma Rede Estratégica de Pontos de Água para permitir que os helicópteros se abasteçam de água no combate aos incêndios; e, juntamente com todas as juntas de freguesia, fazemos a limpeza de toda a mancha florestal do concelho e vigiamos a nossa floresta com veículos equipados com kits de primeira intervenção.

“A floresta só tem futuro se for economicamente rentável. Ninguém vai investir o seu dinheiro na floresta correndo o risco inerente dos incêndios, das pragas”, sublinha Júlio Norte.

Que medidas identifica como prioritárias para o desenvolvimento da floresta em Portugal?

A floresta só tem futuro se for economicamente rentável. Ninguém vai investir o seu dinheiro na floresta correndo o risco inerente dos incêndios, das pragas. É preciso fazer uma reforma da floresta, mas os Governos têm de ter a consciência que esta não pode ser feita em ciclos de 4 anos. Defendo um pacto de regime, com todos os partidos. Pela nossa parte, estamos disponíveis para receber todos os grupos parlamentares, a indústria, a CAP, seja quem for, para transformarmos o fórum florestal de Mortágua num verdadeiro fórum nacional para se discutir a problemática da floresta. Uma discussão sem tabus, começando pelo presidente da Câmara de Mortágua, que é um defensor do eucalipto, mas sabe que a monocultura pode ser melhorada.