A certificação que afasta o abandono
A certificação e remuneração dos serviços de ecossistemas já é realidade em Portugal para alguns produtores florestais. Conheça o caso de David Crespo.
David Crespo é engenheiro agrónomo de profissão, e proprietário florestal por herança e paixão. Tem um património distribuído por Cantanhede, Mortágua e Arouca, com algumas áreas adquiridas pelo pai, que lhe transmitiu este amor pela floresta e o levou a comprar mais parcelas. A área que, neste momento, já tem certificação em serviços de ecossistemas é constituída por cerca de 24 hectares em Arouca, com eucaliptos, sobreiros, castanheiros, freixos e outras espécies. Num dos limites do terreno está o rio Paiva e os passadiços com o mesmo nome, uma infraestrutura com oito quilómetros de extensão que proporciona um passeio no meio da natureza.
“Ao longo dos anos, fiz várias tentativas de manter esta floresta limpa. E conseguia uma limpeza razoável, mas a falta de mão-de-obra torna quase impossível fazer as operações necessárias, sobretudo num terreno como este, onde não é possível realizar as tarefas com as máquinas, devido ao declive”, conta David Crespo. O proprietário florestal fez alguns socalcos na região de Mortágua, à semelhança do que se faz na região do Douro para plantação das vinhas, e quis replicar esta técnica em Arouca, de modo a assegurar a mecanização das operações de limpeza e garantir alguma sustentabilidade. Mas “o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas não autorizou esta obra”, lamenta.
“Estava em risco de abandonar o prédio. Esta certificação fez-me acreditar que é possível mantê-lo para as gerações vindouras”, afirma David Crespo.
O abandono não seria nunca uma opção para David Crespo, mas confessa que estava cada vez mais difícil gerir aquela parcela. “Tenho um cuidado tremendo. Se vejo as coisas mal, eu sofro”, partilha. Mas um dia conheceu a 2BForest e a certificação de ecossistemas. A esperança de ter um espaço bem gerido voltou. A empresa de certificação e a Associação Florestal Entre Douro e Vouga (AFEDV) empreenderam vários trabalhos na propriedade, como a limpeza de vegetação arbustiva espontânea com motosserra, a seleção e plantação de espécies autóctones, a seleção de varas de eucalipto e o controlo de invasoras. “Fiquei muito entusiasmado com a ideia de poder ter a minha floresta valorizada e de aumentar a biodiversidade com os castanheiros, freixos e sobreiros. Acima disso tudo, ainda poderia ser remunerado pelos serviços de ecossistemas que presto”, salienta David Crespo.
A parceria com um conjunto de empresas que valorizam a floresta conservada – e que querem minimizar a sua pegada ambiental – permitiu já ao proprietário florestal receber pelos serviços de ecossistemas, nomeadamente o sequestro de carbono. “Estava em risco de abandonar o prédio. Esta certificação fez-me acreditar que é possível mantê-lo para as gerações vindouras, como é o caso de dois dos meus netos, a quem já doei esta parcela e que de agora em diante irão comandar o seu destino”, conclui, emocionado, David Crespo.