Sustentabilidade como modo de vida
O Baldio de Fafião foi, com Pincães, o primeiro em Portugal a implementar a certificação de serviços de ecossistema do FSC®.
O turismo de natureza é um dos fortes da aldeia de Fafião, localizada no concelho de Montalegre, no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), que alberga nos seus baldios algumas das poucas manchas de sobreiral espontâneo e não descortiçado existentes no País. “O baldio avançou para a certificação da gestão florestal em 2018, por iniciativa da BALADI”, conta Luís Roxo, da CERNA (à esquerda, na foto), empresa que desenvolve atividade de consultoria, gestão e certificação florestal. Entretanto, foi escolhido para ser, junto com Pincães, o primeiro baldio em Portugal a implementar o procedimento de certificação de serviços de ecossistema do FSC, sendo os serviços certificados a captura e armazenamento de carbono e a conservação da biodiversidade.
A quase totalidade da área do baldio está certificada, explica Valter Afonso (à direita, na foto), presidente da Assembleia de Compartes da Comunidade Local de Fafião. Mas, apesar da riqueza de fauna e flora ali existente, a certificação relativa à conservação da biodiversidade abrange apenas as espécies de folhosas que ali crescem espontaneamente, formando florestas naturais de carvalho-negral, carvalho-alvarinho, medronheiro e sobreiro. “Foram, nesta fase, as caraterísticas destas florestas naturais as abrangidas, o que simplifica a sua monitorização”, assume Luís Roxo.
O baldio estende-se por cerca de 2.084 hectares entre os 160 e os 1355 metros de altitude, nas encostas da Serra do Gerês. O lobo é o símbolo da aldeia, presente tanto nos cartazes que anunciam a última edição do Festival Aldeia de Lobos, como no seu principal monumento histórico – o Fojo do Lobo de Fafião, a construção do seu tipo mais bem conservada na Península Ibérica. Em 2003, o fojo foi recuperado pelo ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, com o apoio do Grupo Lobo, e hoje é um símbolo de Fafião, aldeia que trabalha agora na conservação da espécie.
No futuro, os 141 compartes poderão vir a lucrar com os serviços de ecossistema, nomeadamente quando o comércio de emissões se tornar uma realidade.
De momento, é da venda da madeira de pinho que provém o principal rendimento do baldio. No futuro, os 141 compartes poderão vir a lucrar com os serviços de ecossistema, nomeadamente quando o comércio de emissões se tornar uma realidade.
Para já, refere Valter Afonso, perto das margens do rio Fafião a certificação vem trazer uma ainda maior responsabilidade em cuidar do património natural da aldeia, preservando a biodiversidade que é um dos seus cartões de visita.
Mas, tal como acontece em Pincães, também em Fafião os compartes não põem de parte a hipótese de, mais tarde, virem a certificar outros serviços de ecossistemas. A vezeira – uma tradição de silvopastorícia comunitária, em que o gado sobe para a serra em meados de maio para só voltar a descer em setembro, sendo, durante este tempo, pastoreado à vez por vários vezeiros que permanecem na serra de noite e de dia – é, na opinião de Rui Silva, técnico de acompanhamento do Agrupamento de Baldios da Serra do Gerês (no qual está incluído o de Fafião), outro serviço de ecossistema importante, no que toca à sustentabilidade e à conservação da paisagem.
Nota: Este artigo foi originalmente publicado na revista nº 11, de setembro de 2023, no âmbito de várias reportagens sobre casos de áreas florestais com certificação de serviços de ecossistema. Pode descarregar e ler a revista, na íntegra, aqui.