Um novo alento na floresta em mortágua
O município e a CELPA juntaram esforços num programa para a recuperação de 800 hectares de áreas ardidas de minifúndio.
Os proprietários florestais da região de Mortágua afetados pelos incêndios ganharam um novo alento na recuperação dos seus terrenos para produção florestal, mas também na redução do risco de incêndio naquele território.
A esperança está a ser concretizada num projeto piloto desenvolvido e financiado pela CELPA – Associação da Indústria Papeleira, em parceria com a Câmara Municipal de Mortágua, que irá recuperar uma área ardida de 800 hectares, maioritariamente abandonada e de elevado potencial produtivo, num dos concelhos com maior apetência e vocação para a exploração de eucalipto. No final do atual processo de cadastro, estima-se que sejam beneficiados mais de 1 200 proprietários.
“O projeto está a ajudar a criar uma nova dinâmica. Os proprietários estão convictos que os seus terrenos vão ter mais rendimento no futuro””, diz Filipe Fonseca, da CERNE.
“Queremos contrariar o abandono na floresta e ajudar a recuperar o potencial produtivo desta região, pois em cerca de 70% destes 800 hectares não se viu presença humana desde 2017, nem os proprietários tiveram ajudas diretas na recuperação dos povoamentos ardidos”, afirma António de Sousa Macedo, coordenador do Programa de Recuperação de Ardidos em Mortágua.
A CELPA, através da Navigator e da Altri, veio demonstrar que o trabalho pode ser realizado, mesmo tardiamente, efetuando uma efetiva transformação da paisagem, com benefício para os proprietários e para a comunidade local. Inserido no Projeto Melhor Eucalipto, o programa operacional em Mortágua arrancou em novembro de 2021, com uma ação de divulgação na freguesia do Freixo, e logo conquistou a adesão de cerca de70 proprietários, cuja única intervenção é autorizar e facilitar as operações de limpeza de matos e materiais ardidos, bem como a seleção de varas, nos seus terrenos.
Mais proteção e rendimento
Paulo Silva é um de três irmãos proprietários florestais que estiveram entre os primeiros a aderir ao programa e, por isso, a sua parcela de 9 hectares já foi intervencionada. “Fiz uma plantação depois do incêndio de 2017, mas apareceram as acácias e os matos. Vou limpando como posso a minha floresta, mas com os incêndios e as invasoras, além da falta de mão de obra, é uma tarefa muito difícil”, afirma.
O eucalipto é plantado nas propriedades de Paulo Silva desde a década de 1980, no tempo dos seus pais. “Como a espécie tem uma fonte de rendimento muito boa, começámos a fazer uma plantação ordenada, para podermos utilizar máquinas para a limpeza dos matos e tirar madeira”, prossegue. A infraestrutura existente facilitou a intervenção nesta limpeza, que foi feita em poucas semanas, de forma mecânica, entre final de dezembro do ano passado e janeiro deste. “Eu demoraria meses a fazer isto”, exclama, sublinhando as vantagens que encontra neste projeto em Mortágua: “A floresta está mais defendida dos incêndios e o desenvolvimento do eucalipto é melhor, com madeira mais valorizada pela indústria.”
Trabalhos feitos com prestadores locais
Na linha da frente desta iniciativa da CELPA está a CERNE Agroflorestal, empresa prestadora de serviços e de consultoria florestal, sediada no município de Mortágua. “Estamos a fazer a identificação dos proprietários, a delimitação das parcelas existentes e a caracterização da vegetação e espécies florestais”, esclarece Filipe Fonseca. “Numa segunda fase, coordenamos os trabalhos a realizar e procuramos os melhores prestadores a melhor preço, sempre com supervisão de técnicos da CELPA”, acrescenta o responsável da CERNE.
Estima-se que no final dos trabalhos sejam identificados para cima de 1 200 proprietários na área de minifúndio abrangida pelo programa. “Temos encontrado parcelas muito heterogéneas em termos de dimensão – entre1 000 m2 e 9 hectares –, algumas com povoamentos já alinhados, mas muitas desordenadas e sem qualquer tipo de intervenção no pós-incêndio”, prossegue Filipe Fonseca
Boa adesão dos proprietários
Votada ao abandono, também pela incapacidade financeira dos proprietários para a sua recuperação, a floresta pós-incêndio fica vulnerável ao aparecimento de espécies invasoras e à regeneração natural de eucalipto, pinho e matagais, fatores que promovem a competição entre espécies e consequente redução do potencial de produtividade, agravando ainda o risco de novo incêndio. “As pessoas estavam muito desanimadas depois dos últimos incêndios e este projeto está a ajudar a criar uma nova dinâmica. Os proprietários estão convictos que os seus terrenos vão ter mais rendimento no futuro”, refere Filipe Fonseca.
Acresce que as áreas abrangidas pelo programa irão entrar automaticamente nas próximas campanhas do Limpa e Aduba, programa da CELPA que oferece adubações de manutenção em povoamentos de eucalipto previamente limpos de matos.
Autarquia apoia quem trata da floresta
A área florestal de Mortágua ocupa 90% do território do concelho, sendo fonte de riqueza, emprego e desenvolvimento da região, razão por que o município acarinha o projeto “desde a primeira hora”, afirma Luís Filipe Rodrigues, vice-presidente da Câmara. “Os proprietários da região não são absentistas, mas o incêndio de 2017 criou algum desalento para quem tem uma fonte de rendimento na floresta, com uma dinâmica quase empresarial, de produção. Por isso, era necessário um incentivo para os que tratam da floresta”, acrescenta o autarca, responsável pelos pelouros do Ordenamento do Território e Recursos Naturais, e Proteção Civil.
“A indústria é consumidora da nossa floresta, mas também traz know-how, investe na prevenção florestal do território, na investigação e no apoio e melhoramento da floresta cultivada que temos em Mortágua”, afirma Luís Filipe Rodrigues, vice-presidente da Câmara.
A intervenção do programa irá promover a descontinuidade numa extensa área de floresta, diminuindo a carga de combustível que nasceu e ficou disponível no pós-incêndio. Pela sua parte, o município participa com a “gestão do condomínio”, como refere Luís Filipe Rodrigues. “Vamos dar o nosso enfoque nos caminhos florestais, pontos de água e infraestruturas florestais do domínio público, que serão intervencionadas pela Câmara.” O autarca destaca ainda a importância da indústria no desenvolvimento da floresta. “A fileira da pasta e papel e da biomassa tem uma dinâmica forte e boa relação com a produção florestal privada e, por isso, somos parceiros. Esta indústria é consumidora da nossa floresta, mas também traz know-how, investe na prevenção florestal do território, e na investigação, apoio e melhoramento da floresta cultivada que temos em Mortágua”, conclui.