Valorizar a floresta
António Henriques, presidente da Câmara Municipal de Castanheira de Pera, destaca os projetos florestais em curso no concelho
O Município de Castanheira de Pera está a investir na requalificação dos eucaliptais, em parceria com a Biond. Em que consiste este projeto?
O projeto piloto Melhor Floresta, coordenado pela Biond, pretende desenvolver boas práticas florestais para uma gestão ativa e responsável dos recursos silvícolas, que tragam uma maior resiliência contra incêndios, pragas e doenças e, por extensão, uma maior rentabilidade para os pequenos proprietários. No montante de cerca de 1,2 milhões, financiado pelo PRR, o projeto cobre uma área de cerca de 850 hectares e inclui operações de desmatamento, controlo de espécies invasoras e desbaste dos eucaliptais, por forma a diminuir a carga de combustíveis – e, por este meio, o risco de propagação de incêndios. Num território onde predomina o minifúndio agrícola e florestal, a extensão do projeto permite otimizar a escala de intervenção, com vantagens, na criação de valor, para os proprietários e os parceiros locais, e na proteção das povoações.
Que outros projetos florestais estão em curso?
Vamos avançar brevemente com a execução de 10 Condomínios de Aldeia, no valor base de 468 mil euros – para cada aldeia está fixado um limite máximo de 50 mil euros, financiados na totalidade pelo Fundo Ambiental, cabendo à autarquia cobrir os montantes remanescentes nas intervenções mais extensas. O objetivo é promover a diversificação da paisagem rural e a valorização do potencial agrícola e/ou agroflorestal na faixa de 100 metros ao redor das aldeias, com destaque para a (re)introdução de culturas, como o olival e o medronheiro, que melhor se adaptem ao solo e ao clima. Combinando o incremento da rentabilidade do minifúndio agrícola com a resiliência das aldeias à ocorrência de incêndios, o perímetro do condomínio restringe a produção florestal de celulose (eucalipto) e de resinosas (pinheiro-bravo), à exceção do arbóreo autóctone disperso. O Município tem como horizonte alargar a delimitação dos condomínios às 36 aldeias do concelho. A criação de mosaicos florestais, numa área de intervenção de 215 hectares, e o combate de espécies invasoras arbóreo-arbustivas, como a háquea e a acácia, são outros projetos florestais em curso. Assinale-se, ainda, a submissão de candidatura para a criação de uma AIGP (Área Integrada de Gestão da Paisagem), numa extensão de 950 hectares no centro-norte do concelho.
Quais são os grandes objetivos da Câmara Municipal de Castanheira de Pera para a floresta do concelho?
Quase metade do nosso concelho está enquadrado na área da conservação dos habitats da rede europeia Natura 2000, inserido no sítio da Serra da Lousã. Manchas de floresta autóctone, onde predominam os carvalhos, sobreiros e castanheiros que, neste quadro idílico, estimulam a olhar para a valorização das paisagens através da capitalização de práticas sustentáveis dirigidas à promoção do turismo de natureza. São duas visões da floresta que se intercetam – a valorização do arbóreo autóctone e das galerias ripícolas, e a rentabilização da monocultura de produção florestal (eucalipto e pinheiro-bravo) – e cujo valor socioeconómico e ambiental pretendemos conciliar. Num concelho com forte tradição histórica relacionada à indústria têxtil, reveste-se de especial interesse a inovação tecnológica aplicada à celulose no desenvolvimento de fibras têxteis, na expectativa de estabelecer parcerias e atrair novos investimentos para o território.