Reportagens

Os eucaliptos: Razões e paixões

No artigo de opinião escrito para a Produtores Florestais, Francisco Díaz-Fierros Viqueira reflete sobre os mitos associados à especie.

De acordo com os últimos dados históricos conhecidos, a introdução do eucalipto em Espanha teve lugar nos anos cinquenta do século XIX, e não se pode excluir que a sua origem tenha sido Portugal. Devido às suas propriedades madeireiras, medicinais e ornamentais, foi logo muito procurado, tanto que, na década seguinte, já estava presente em toda a costa espanhola, desde a Catalunha até ao País Basco. A sua penetração ganhou novo impulso no início do século XX, quando a silvicultura germânica dominante, com uma orientação conservacionista, foi substituída por um tipo “económico” ou produtivista que já exigia espécies de crescimento rápido para satisfazer as importantes necessidades dos novos projetos mineiros e ferroviários.

Com o novo regime político que emergiu da Guerra Civil (1936-39), foram lançados importantes planos de repovoamento com espécies de crescimento rápido, especialmente coníferas, mas também eucaliptos. Contudo, foi o proprietário privado o principal responsável pela expansão do eucalipto, como resultado do incentivo dado pela instalação das primeiras fábricas de papel espanholas a partir dos anos 50 do passado século XX, com o número de hectares a aumentar de 100.000 no final desta década para 650.000 no início do século XXI. Nos últimos anos, contudo, tem havido uma ligeira diminuição desta área como resultado da eliminação de alguns repovoamentos improdutivos no sul de Espanha e das limitações impostas a este género (com moratórias em alguns casos) no resto do país.

“Mesmo associações ambientais há muito estabelecidas, como a Greenpeace, chegam ao ponto de afirmar: ‘A árvore do eucalipto não é a culpada. Não se pode atribuir a uma árvore um conflito que tem a ver com as técnicas de planeamento, repovoamento, silvicultura e exploração.’”

O acolhimento favorável do eucalipto em Espanha, inicialmente de uma forma geral, e cada vez mais seletivo e reduzido aos proprietários privados, contrasta pouco depois com a rejeição que surgiu em diferentes setores da sociedade espanhola. Numa primeira fase, estes são pequenos casos que se resumem a críticas relacionadas com a expansão das raízes, consumo de água ou o seu impacto na paisagem, e que foram feitas por alguns silvicultores ou intelectuais, mas a partir dos anos 80, com a expansão do movimento ambiental em Espanha, surgiram grupos organizados que, através dos meios de comunicação social (geralmente muito recetivos às suas propostas), encontros, congressos e com um ativismo cada vez maior nas ruas, conseguiram fazer com que parte da opinião pública, principalmente urbana, desenvolvesse uma opinião muito negativa em relação aos eucaliptos. Os dados em que se baseiam são principalmente publicações estrangeiras, mas pouco a pouco certas equipas de investigação, geralmente ligadas a estudos relacionados com as Ciências Naturais, começam a realizar o seu próprio trabalho crítico e a juntar-se à corrente mais populista dos grupos ambientalistas.

O que no meu livro Eucaliptos en España. Razones y Pasiones denomino de “Em busca de um entendimento” é um movimento que começou no final dos anos oitenta do século passado nos centros de investigação florestal, bem como noutros grupos dedicados aos estudos hidrológicos e edafológicos, para criar projetos que tentam elucidar, através da mais rigorosa metodologia científica, as bases da realidade para o número de críticas crescentes aos eucaliptos. As conclusões, que foram publicadas em inúmeros artigos e vários livros, em linha com o trabalho promovido pela FAO na altura, foram que o eucalipto, como todas as espécies de crescimento rápido, poderia causar problemas a certos ambientes e comunidades biológicas, mas que uma rigorosa seleção de locais e métodos de gestão poderia perfeitamente contrariar esses problemas. Como resultado deste trabalho, mesmo associações ambientais há muito estabelecidas como a Greenpeace, num trabalho de compilação sobre “La conflictividad de las plantaciones de eucalipto en España (y Portugal)”, de 2011, chegam ao ponto de afirmar: “A árvore do eucalipto não é a culpada. Não se pode atribuir a uma árvore um conflito que tem a ver com as técnicas de planeamento, repovoamento, silvicultura e exploração.”

“A situação atual não é a mais conducente a um diálogo calmo e razoável sobre estas questões. Todos os conflitos, mas os conflitos florestais talvez mais, são afetados por uma atmosfera de confronto político e ideológico que contamina tudo.”

Estes anos de certa aproximação de posições foram de curta duração, pois mais uma vez as críticas se intensificaram, estimuladas cada vez mais pela atmosfera apaixonada que as rodeava e que, por vezes, utilizavam situações trágicas e altamente emotivas como os incêndios florestais para redirecionar uma causalidade extremamente complexa para inimigos facilmente reconhecíveis e identificáveis como os eucaliptos. A situação atual não é a mais conducente a um diálogo calmo e razoável sobre estas questões. Os conflitos, todos os conflitos, mas os conflitos florestais talvez mais, são afetados por uma atmosfera de confronto político e ideológico que contamina tudo. Assim sendo, seguindo este caminho, não é fácil chegar, de momento, a um diálogo argumentado e orientado para o encontro e não para o confronto.

Francisco Díaz-Fierros Viqueira é professor Emérito de Edafologia e Química Agrícola da Universidade de Santiago de Compostela e lançou, em novembro de 2022, o livro Eucaliptos en España. Razones y Pasiones.