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Produção de papel faz crescer a floresta

Todos os anos, a indústria de pasta e papel planta mais árvores do que aquelas que colhe. Por isso, as florestas de produção estão em crescimento, contrariando a tendência global de perda de área verde.

papel em produção

A produção e o uso de papel não causam o desaparecimento das florestas. Pelo contrário: é quando a procura de papel diminui que o número de árvores também decresce, reduzindo-se os importantes impactos positivos que a floresta tem para o ser humano e o planeta.

Todos os anos, a indústria de pasta e papel planta mais árvores do que aquelas que colhe: uma média de cinco por cada uma utilizada para fazer papel, afirma a TAPPI – Technical Association of the Pulp & Paper Industry. O setor contribui, assim, para contrabalançar a tendência mundial de perda de floresta. Os números do relatório The State of The World’s Forest 2020, da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), confirmam este cenário. Por um lado, entre 2015 e 2020, foram destruídos 10 milhões de hectares de floresta por ano, devido sobretudo à expansão agrícola (a criação intensiva de gado e o cultivo de soja e de óleo de palma foram responsáveis por 40 por cento da desflorestação tropical entre 2000 e 2010, e a agricultura local de subsistência por mais 33 por cento). Por outro lado, a plantação de novas florestas foi crescendo, reduzindo o ritmo de perda de área total florestal: de 7,8 milhões de hectares por ano na década de 1990 para 4,7 milhões anuais na década 2010–2020.

Na Europa, os dados do relatório Global Forest Resources Assessment 2020, da FAO, referem que a área florestal cresceu 17,5 milhões de hectares nos últimos 25 anos.

“A gestão florestal ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável, contribui para responder às necessidades da sociedade sem esgotar o capital natural”, afirma o WWF (World Wide Fund for Nature), que, na sua Forest Solutions Platform, resume alguns dos principais contributos ecológicos e económicos do setor: as árvores usadas para fazer papel são, de preferência, plantadas em áreas previamente degradadas pela agricultura e pecuária, contribuindo para a recuperação tanto do solo como da biodiversidade; os povoamentos são constituídos em sistema de mosaico, onde áreas de preservação e de reserva coexistem com as plantações florestais e áreas rurais; e as explorações são uma alternativa adicional de renda para os produtores, que não tem impacto na produção de alimentos.

A melhor árvore para o melhor papel

O papel pode ser produzido, basicamente, a partir de dois tipos de árvore: as coníferas, como pinheiros ou abetos, que fornecem uma fibra longa mais rara e cara no processo produtivo, e as árvores frondosas, como eucalipto, bétula ou acácia. No entanto, após décadas de investigação, a partir de 1970, a celulose de eucalipto das espécies E. globulus (da Península Ibérica) e E. grandis (do Brasil) começou a substituir a pasta de bétula (da Escandinávia) no mercado europeu da fibra curta.

Graças a ter mais massa volúmica, opacidade, flexibilidade e elasticidade, a fibra curta tem melhor qualidade para a produção de vários segmentos papeleiros, desde o de impressão e escrita (fine papers) até ao de uso doméstico e sanitário (tissue). Em termos produtivos, é também muito mais eficiente: para produzir a mesma quantidade de pasta de papel, o E. globulus necessita apenas de 70% da madeira, em comparação com a bétula ou com o híbrido brasileiro, exigindo menor consumo de produtos químicos no cozimento e no branqueamento.

Devido às condições de clima e solo, Portugal tem uma vantagem competitiva na produção de Eucalyptus globulus, que serve de matéria-prima para o melhor papel do mundo.

A portuguesa The Navigator Company é o primeiro produtor europeu de papel de impressão e escrita não revestido (UWF), e sexto a nível mundial. A planta que utiliza nas suas florestas vai na quarta geração do programa de melhoramento genético, e a sua produtividade é 40% superior à dos seus ancestrais. Além de que a aposta na gestão sustentável das explorações da empresa garante que a matéria-prima que daí provém é 100% certificada e que o ordenamento dos povoamentos respeita a biodiversidade local. No ano passado, em Portugal, a Navigator reflorestou 3 767 hectares de floresta.